30.4.18

Para quê?

Para quê insistir?
Talvez porque seja a única forma de persistir...
A alternativa seria desistir, mas para quê?

Do esforço apenas o cansaço pleno... pode ser que, amanhã, tudo seja mais razoável, mais leve, mais nítido.
Hoje, a dormência entediada de quem não percebe tanto enjoo...

29.4.18

A surpresa





De regresso às raízes... cada vez mais trabalhosas e com uma surpresa. Vamos ver quem é que a descobre.
No campo também há ervas daninhas bem enraizadas... Por mais que nos esforcemos, elas conhecem mil e um atalhos, secam-nos o caminho, isto é, trocam-nos os passos, arranham-nos as mãos e deixam-nos de rastos.

28.4.18

Esqueçam as portas e as bruxas

Li um destes dias que há mais de 100 anos os jornais descobriram que podiam substituir os povos medievais na caça às bruxas através da chamada 'perseguição social'. Escolhido o alvo, de preferência, fragilizado por algum pecadilho real ou imaginado, os dias na boca do mundo, definitivamente, acabavam-lhe com a reputação...
E fazem-no impunemente a coberto da inefável liberdade de expressão, não apenas os jornais, mas  todos os restantes 'meios de comunicação social', a que nas últimas décadas foram acrescentadas as implacáveis redes sociais...
Dizia-me, na última semana, uma promissora comunicadora, a propósito de 'fontes' e de 'memórias' materiais e imateriais, que eu não gosto da 'comunicação social' e sou levado a crer que ela tem razão, pois detesto a justiça popular e, sobretudo, a 'perseguição social'... embora, hoje, me sinta de bom humor, pois li algures que há em Portugal um advogado que não é despedível... E porquê este neologismo?
Provavelmente, porque o amigo Silva, que tudo paga, não lhe honrou os honorários. Certamente, uma pipa de massa!
Sinto-me indespedível. Esqueçam as portas e as bruxas...

27.4.18

Dá vontade de bater com a porta

«Uma personalidade harmoniosa é centrífuga.(...) Nada é tão deprimente como estar fechado em si mesmo, nada é tão consolador como ter a sua atenção e a sua energia dirigidas para o mundo exterior.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade.

A psicologia racional tem me ajudado a superar múltiplos obstáculos internos e externos. Surgem, no entanto, momentos extremamente deprimentes ao voltarmos a nossa atenção e energia para o mundo exterior.
Refiro-me, na circunstância, à impossibilidade de estabelecer qualquer forma de diálogo com seres que são narcisistas, presunçosos  e autossuficientes.
Dá vontade de bater com a porta... é que está-se mesmo ver que nem o tempo os vencerá...

26.4.18

Adieu Philipinne, de Jacques Rozier

Derrotado pelo cansaço físico e nervoso, desaconselhado pelo trânsito lisboeta, fui à Cinemateca ver o filme Adieu Philipinne / 1963, de Jacques Rozier.
Este realizador, com este filme, propôs a nova gramática do cinema europeu dos anos 60 - Jacques Demy, Truffaut, Godard -, só que foi sendo marginalizado por desrespeitar os ditames dos produtores.
Por cá, o filme passou a 11 de maio de 1979, na Fundação Calouste Gulbenkian, e compreende-se. Em 1963, ano de estreia, o filme alude à guerra da Argélia (1954-1962)...
A cena de despedida em que Michel embarca sem certeza de regresso seria suficiente para que, durante a guerra colonial (1961-1974), a obra de tal realizador não pudesse ser vista nas salas de cinema portuguesas...
À distância, percebe-se que a Europa do pós-guerra estava a mudar, todavia, em Portugal, só os exilados e os estrangeirados estavam em condições de compreender tal mudança. 
No que me concerne, os anos 60 foram de clausura... Talvez por isso a banda sonora me tenha agravado o cansaço... 

25.4.18

No intervalo

«O hábito de pensar em termos de comparação é um hábito fatal.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade.

Já não há nada que não comparemos, em termos pessoais, profissionais e políticos. E porquê? Porque vivemos minados pela inveja...
O recurso à comparação é um traço comportamental tão arreigado que, mesmo se eliminássemos os espelhos, continuaríamos a reger a nossa vida pelas silhuetas que nos assombram desde que nascemos...
No caso do 25 de Abril, continuamos a olhar para trás e, felizes, sentimo-nos superiores aos espetros do Estado Novo...
No intervalo, contentamo-nos com a devassa, sempre invejosos dos sucessos e das malfeitorias dos nossos semelhantes...

24.4.18

Já só rosa!

Parece que foi ontem. Primeiro, a surpresa. Depois, o receio...
Tinham sido tantos anos de resignação! 
A opção foi sair à rua, ver o que estava a acontecer, sempre à distância não fosse o diabo tecê-las... até que o enxame humano assaltou o blindado à espera que suas excelências se rendessem e elas à espera que o povo se lhes mostrasse reconhecido...
Mas o povo só queria paz, saúde, habitação e que a poesia escorresse pelas ruas e pelas gargantas... a poesia estava na rua, não só da vieira da silva, mas em todas as ruas desabrochavam cravos, querendo pôr fim ao tempo que fora de escravos...
Ainda se fossem rosas, mas essas acabaram chegando, primeiro nas jarras, ainda com cravos na lapela, e depois já só rosa com cada vez mais espinhos...