31.3.18

Isto não é uma leitura!

A procura de relações intertextuais parece estar na moda. Aqui ficam duas alusões a Fernando Pessoa n'O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa: a) «Abomino a mentira porque é uma inexatidão.» - Ricardo Reis; b) Fernando Pessoa transformou a biografia prosaica de um pequeno funcionário de escritório num Livro do Desassossego que é, talvez, a obra mais interessante da Literatura Portuguesa.»
A leitura de José Eduardo da Literatura Portuguesa ( complexo nominal de má memória para o Autor) desloca-se progressivamente de Eça para Pessoa - Um Eça reduzido aos adjetivos: «A luz cai, magnífica, tão forte, tão viva, que parece pousar sobre as coisas como uma espécie de névoa luminosa. - Isso é o Eça»  Um Eça cujos adjetivos são comparados às camisas de Nelson Mandela...
O problema é que para além das relações intertextuais, é necessário conhecer um pouco mais da nomenclatura angolana e sobretudo da  luta pelo poder em 1977 -   Angola 27 maio 1977
Quando se quer o poder e não se tem passado, há que inventá-lo. Esse é o trabalho, bem lucrativo, do genealogista Ventura Félix...
Perplexidades de um leitor desastrado, a quem insistem em dizer que o livro é agradável... não fosse a osga (o narrador)... lagarto, lagarto!

30.3.18

O significado da Páscoa

Tempos houve em que Páscoa significava rancho melhorado...
Entretanto, o rancho melhorou...
E hoje, o que é que a Páscoa significa?
Pausa, festim, correria, endividamento, greves, alarmismo, violência, morte...
E o vento sopra gélido escorraçando a chuva...
Apesar de tudo, tempos houve em que na Páscoa se celebrava a ressurreição de Cristo, só que,  em 2018, este dia é de mentiras...

29.3.18

É possível fotografar o tempo

Vou indo, devagar... não estou a replicar.
Nem já estou a ir. Fui, devagar... a pensar que podemos fotografar o lugar, mas não o tempo... até que, ao fixar-me na cor das flores e na luz da hora, me apercebo que é possível fotografar o tempo, não em absoluto, mas o tempo da florescência e do graffiti - diversos no acontecer...
Tão diversos que, no regresso, me surpreendi com a rapariga que passeava o cigarro, deixando a cadela correr sem trela e, sobretudo, com o idoso que respigava, apressado, os caixotes de lixo sem proveito visível...

28.3.18

De regresso...

Colocar os pés no passado, não.
Ninguém quer ser conversado...
Tento, mas, felizmente, o olvido barra esse ímpeto.
Se me arrisco, não sou o que fui, um estranho irreal... com pressa de regressar ao presente.
Lá no passado, só há lugares vazios
cómodos de se lidar
sob a luz que nunca foi minha.
Por ora, estou de regresso...
ao presente.

27.3.18

Sem nada por dizer

Agora, não tenho nada a dizer. A simples hipótese de 'ter' já é temerosa, pois por mais que se tenha, nunca se sabe por quanto tempo... Se a 'ter' se acrescentar 'dizer', então, a audácia torna-se prosápia...
Raros são os que chegam ao limiar do dizer.
O quê? O que ainda não foi dito ou que, em última instância, já foi esquecido. Não fosse o esquecimento e há muito que o mutismo imperaria...
Na maior parte das situações, o 'dizer' nutre-se do esquecimento - sob a forma de amnésia ou de qualquer outra obliteração...
Agora, de nada serve elogiar o 'ser', pois ao não se saber por quanto tempo, ficamos reduzidos a uma existência inquieta... enquanto não partimos, em silêncio, espero - sem nada por dizer.

26.3.18

Nota social

En Chine, les personnes avec une faible "note sociale" ne pourront plus prendre l'avion ou le train. Nota social

Com tanta gente excelente, não se compreende que nos possamos enganar nas contas. Este plural não é majestático, é apenas uma forma de dizer que não temos nada a ver com erros alheios, europeus seguramente...
A Caixa Geral de Depósitos emprestou uns milhares de milhões de euros. Por razões que só eles sabem, nunca mais lhes pôs a vista em cima, embora esses milhares de milhões circulem por aí e por além... Como consequência, para que o Banco, dito público, no sentido de prostituído, não fosse à falência,  os contribuintes veem-se obrigados a pagar o desfalque - o Estado injeta e nós amargamos...
Agora vem o Centeno dizer que os quatro mil milhões não contam...
Começo a pensar que o melhor é criar uma "nota social", tal como fazem os chineses. Se tal acontecesse, já não seria necessário desperdiçar dinheiro na construção de um novo aeroporto...

25.3.18

Lembra-me o típico regateio

Hoje, terá sido domingo! Ventoso... Não sei se com se sem ramos...
O dia não foi muito diferente de outros - classificação de trabalhos de 'ultima hora'. Tomada de consciência de que, para além do plágio - forma antiga de mobilidade social - se tornou mais fácil produzir uma qualquer apreciação, exposição... Esquematicamente, basta produzir ou copiar uma ideia cuja expressão não ultrapasse 30 palavras... e depois uma longa citação plasmada no centro do documento...
                                            e assim sucessivamente

Confesso que, neste domingo, em certo momento, dei comigo a pensar que a noção de 'critério de avaliação' mudou muito nestes últimos 50 anos... Ainda recordo que o 'critério' era um segredo bem guardado pelo professor. Nesse tempo, a ansiedade só se desfazia quando a pauta era afixada, e a decisão era acatada com um sorriso ou, muitas vezes, com uma lágrima que era preciso esconder...
Hoje o critério é público, mas prostituído. Lembra o típico regateio com os feirantes...