18.2.18

O ato censório do BC

Em tempo de pronunciamentos políticos e desportivos, as proposições devem ser claras e as preposições unívocas ou, no mínimo, não devem conflituar com os verbos de que dependem... (alusão desnecessária, mas a que não resisto...)
Este fim de semana tem sido de tal modo fértil em juras, proibições e anátemas que, de entre elas, destaco, o ato censório do BC, de quem não me atrevo a pronunciar o nome, e que, no meu mesquinho entendimento, deve sofrer de maligni Spiritus manifestationes...
Face à situação, creio que uma das profissões do futuro será a de exorcista...
O que não falta são BCs e respetivos fâmulos!

17.2.18

Preposições ambíguas

Albuquerque: “Não tenho problemas em divergir com Alberto João Jardim” Desvio regional

Chama-se preposição à palavra invariável, pertencente a uma classe fechada, que permite estabelecer relações de sentido entre duas partes ou elementos de uma proposição. 

Quando os lemos (ouvimos) nem por um minuto desconfiamos que Miguel Albuquerque e Alberto João Jardim possam divergir...
Unidos, divergem. Só não se sabe de quem! 
No espaço lusófono, há muito que assistimos à redução do número de preposições e à consequente utilização intensiva de umas tantas...
De qualquer modo, nem tudo é negativo, pois as preposições já revelam o estado mental dos atores políticos...
Para quem aprecie a análise política, proponho que comece pelas preposições...

15.2.18

Paroles... paroles...

A 1 de janeiro, o ano descolou com muitas promessas, a começar pelas do Governo.
Os dias passam... e nada.
Dizem-me que as promessas seriam prontamente cumpridas, não fossem dois obstáculos: o recenseamento profissional e o software.
Não encontro explicação, pois não creio que os deuses do Olimpo tenham alguma coisa a ver com o surgimento destes novos adamastores... mostrengos. 
No entanto, desconfio de que quem fez as promessas já tinha encomendado um novo software e um novo recenseamento...
E o incumprimento não deve ser por falta de dinheiro, tanta é a propaganda.

14.2.18

Pedir por objetivos

Há uma semana, um automobilista imobilizou o veículo e pediu a um peão que contribuísse para a reparação do seu automóvel...
Um pedinte matinal cumpre o seu ofício, só que hoje pediu três euros, nem mais nem menos um cêntimo...
Faz hoje oito dias, também me pediram que deixasse de atribuir classificações inferiores a 8 valores, mesmo se o pedinte se tivesse ausentado...
E já me esquecia do ministro (das finanças) que pediu bilhetes para um jogo de futebol... e de toda a gentinha que passa a vida na pedincha para os outros (e para si)...
Há, também, quem o faça em nome de deus, da mãezinha, dos filhos... Por vezes, também me apetece pedir que não me aborreçam...

13.2.18

O Carnaval português em 1936

«É o carnaval português. Passa um homem de sobretudo, transporta, sem dar por isso, um cartaz fixado nas costas, um rabo-leva pendurado por um alfinete curvo, Vende-se este animal, até agora ninguém quis saber o preço, mesmo havendo quem diga, ao passar-lhe à frente, Tal é a besta que não sente a carga, o homem ri-se dos divertimentos que vai encontrando, riem-se os outros dele, enfim desconfiou, levou a mão atrás, arrancou o papel, rasgou-o furioso, todos os anos é assim, fazem-nos estas partidas e de cada vez comportamo-nos como se fosse a primeira. Ricardo Reis vai descansado, sabe que é difícil fixar um alfinete numa gabardina, mas as ameaças surgem de todos os lados, agora desceu velozmente de um primeiro andar um basculho preso por uma guita, atirou-lhe o chapéu ao chão, lá em cima riem esganiçadas as duas meninas da casa. No carnaval nada parece mal, clamam elas em coro, e a evidência do axioma é tão esmagadora e convincente que Ricardo Reis se limita a apanhar do chão o chapéu sujo de lama, segue calado o seu caminho, já reviu e reconheceu o carnaval de Lisboa, são horas de voltar ao hotel. Felizmente há as crianças.»
                     José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Porto editora, reimpressão de 2017

Desta vez, não volto a explicar a origem do Carnaval - basta pesquisar que Caruma responde enfadonhamente. Proponho apenas que leiam as páginas de Saramago - da 181 à 188.

12.2.18

Copistas

Desde o Antigo Egito,  o copista (o amanuense) foi de grande utilidade ao Senhor, ao Império, à Igreja, ao Estado e, em particular, à Justiça.
Grande parte da Memória foi preservada pelos copistas...
Infelizmente, conheço uns tantos copistas, a quem um amigo insiste em explicar o que é um plágio sem que eles interiorizem o significado de tal termo que, quando lhes é solicitada a resolução de um questionário da disciplina de Português, logo se propõem entregar o resultado do cavo labor para que o professor o classifique.
Pacientemente, o mestre inicia a leitura do referido trabalho, à espera de contribuir para a educação do jovem, só que acaba por deparar-se com duas situações, qual delas a mais abusiva: a) por exemplo, em 6 respostas, cinco foram copiadas umas pelas outras; b) e, por outro lado, não passam de cópia ou de decalque das "respostas" propostas no manual do docente...
    ... e esta é uma situação cuja responsabilidade deve ser atribuída às editoras, ou será que os atuais professores deixaram de ser capazes de elaborar perguntas e avaliar as respetivas respostas?

De qualquer modo, o que mais me choca é, afinal, a ideia corrente de que mesmo um mau copista não deve ser submetido a qualquer exame, nem deve ser negativamente avaliado e, sobretudo, não pode ser censurado.

10.2.18

Por dá cá aquela palha...

Casa de Samardã
Diz Camilo Castello Branco a Silva Pinto que «aqui terá passado dois anos de infância, os menos desgraçados» e logo alguém conclui que foi lá que ele passou os melhores anos da sua vida...
Curiosa interpretação!
Não sei porquê, e sem querer igualar Camilo no infortúnio, estou sem saber onde é que vivi os melhores anos, embora suspeite que terá sido no tempo da irresponsabilidade, apesar de, desde cedo, me terem sido pedidas satisfações por dá cá aquela palha...
E até hoje pouco mudou. Parece que continuo a ter de prestar contas até ao dia do juízo final...
Também eu entrei em múltiplas casas (sorte a minha!), mas estou incapaz de apontar uma que se diferencie, apesar de por fora poderem indiciar maior ou menor felicidade.