30.6.17

Se eu fosse coelho...

Se eu fosse coelho queria lá saber do eucalipto... O mato é o que mais arde em Portugal! Este é que protege o coelho, este é que assegura a reprodução dos láparos...
Um pouco mais de inteligência e perceberíamos que o saber do coelho é naturalmente distinto do saber humano...
Com o coelho não vale a pena entrar em polémica. O único ser que sabe captar-lhe a atenção é a cobra, e esta não necessita de palavras, pois hipnotiza-o com a maior das facilidades...
Em conclusão, o que é necessário é proteger o mato, porque nele tanto habita o coelho como a cobra...

29.6.17

Bem tento compreender...

«O medo do desvio é uma espécie extremamente condensada de ansiedade. (...) A tarefa é menos simples no caso do medo pós-moderno da insuficiência. Em parte, porque o próprio mundo em que opera é - ao contrário do mundo moderno "clássico" - fragmentário, e porque o tempo pós-moderno, em perfeita oposição ao tempo moderno linear e contínuo, é "achatado" e episódico. Num mundo e num tempo assim, as categorias referem-se mais a "ares de família" do que a "núcleos duros" ou sequer a "denominadores comuns".»
                                      Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada

Bem tento compreender, mas como se o tempo em que vivo é muito diferente do tempo em que me formei...
Desse tempo, em que me era exigida coerência, coesão, caráter, autenticidade, verdade, compreensão, pouco sobra, a não ser uma co-existência forçada, episódica...
A narrativa contínua e articulada foi substituída por quadros ou, como muitos dizem, por "cenas" - esta cena, aquela cena, a minha cena, a tua cena, a cena dele, a cena dela... 
Cenas que se esgotam em si - pequenos e grandes dramas efémeros, chatos, mas que se comprometem é só no momento que a memória apaga num instante...
É esta desvalorização do que fui que me move a tentar compreender, pois as ferramentas  do tempo pós-moderno exigem outro tipo de "inteligência", menos racional e mais insuficiente, de tal modo que já não sei avaliar, pois o conteúdo deixou de interessar e o objetivo, de tão imediato, é tão líquido que não o consigo apreender.

28.6.17

'Diferença de opinião' ministerial

Desacordo. A resposta é válida. A resposta não é válida.
Não sei se a pergunta foi bem formulada, custa-me, no entanto, que um ministro possa afirmar que se trata de «diferença de opinião».
Tempos houve em que a "opinião" não bastava para validar uma resposta.
A eterna questão da ambiguidade!

Bem sei que os tempos são outros! E parecem sofrer de flatulência...
(...)
Entretanto, e já decorreu uma semana, o Ministério da Educação decidiu não anular a prova de exame de Português (639)...
Espero que a decisão não resulte de uma mera opinião.

27.6.17

Uma questão de inteligência...

"Vejo o meu pai, no limite da minha infância, dobrar a porta do pátio, com um baú de folha na mão.(...) Minha mãe dizia-me adeus de dentro da charrete e cada vez de mais longe
Vergílio Ferreira - Fotobiografia, organização de Helder Godinho e Serafim Ferreira, Lisboa, Bertrand, 1993, p. 118.

Há quem interprete a partida assinalada no excerto como indicador da morte dos pais do autor. E há quem desvalorize tal interpretação, rotulando a falha como uma imprecisão...
Desta vez, compreendo o desplante, pois se até Passos Coelho se precipitou ao anunciar o suicídio de familiares das vítimas do incêndio do Pedrogão Grande, confiando mais no rumor do que na inteligência...
Os ventos continuam a não soprar de feição!
                (Para que a imprecisão não se agrave, os sublinhados são meus...)

26.6.17

Os ventos oblíquos e os pirómanos

Estou tentado a pensar que o vento é o culpado do que aconteceu em Pedrógão Grande e zonas limítrofes.
De qualquer modo, já, na narração da odisseia lusitana, os ventos faziam enormes estragos, obrigando Camões a estudá-los com alguma minúcia. Comandados por Éolo, o deus dos ventos, Bóreas, Noto, Euro e Zéfiro moviam-se tomando a defesa do partido muçulmano no conflito com o partido cristão...
Portanto, o problema é antigo, parecendo que os ventos não são imparciais e, sobretudo, que se movem obedecendo a impulsos pirómanos...
Ora, o que se percebe é que andam à solta muitos pirómanos, uns ativos e outros passivos. Há quem defenda que os ativos devem ser encarcerados logo que o calor aperta. Compreendo a medida, embora os pirómanos passivos me preocupem mais, pois fartam-se de ganhar dinheiro, de desertificar o território, para mais tarde se apoderam dele ao preço da uva mijona...
Curiosamente, um ilustre pirómano, neste fim de semana, deitou a cabeça de fora e começou as soltar os ventos de um interminável ajuste de contas partidário, em que, paradoxalmente, muitos são culpados e beneficiados...

25.6.17

A culpa deve ser do vento

Moro a 200 metros da Igreja do Cristo Rei da Portela. Não a frequento, mas oiço os sinos, e, quando diante dela passo, dou conta da ação social e, também, do movimento nas capelas funerárias... Aos domingos e dias santos, apercebo-me do carro de exteriores da RTP, o que me anuncia a transmissão do ofício religioso urbi et orbi...
Digamos que esta Igreja não me hostiliza, apesar das minhas ideias sobre o poder anestesiante da religião, de qualquer religião...
Hoje, no entanto, estou cansado do karaoke de péssima qualidade que sopra de lá...
A culpa deve ser do vento! Só que nunca pensei que a Igreja do Cristo Rei da Portela pudesse ser tão plebeia...

24.6.17

É a lógica do must exit

Em silêncio, medito:

«Os deserdados serão condenados ao esquecimento, ao abandono, ao desespero puro e simples. É a lógica do must exit. Poor people must exit ( Os pobres têm de sair de cena). O ultimato da riqueza, da eficácia, risca-os do mapa. Justificadamente, uma vez que têm o mau gosto de escapar ao consenso geral.» Jean Baudrillard, America... 

É a lógica do capital! E quem não se adaptar, deve sair de cena!
Deve ser por isso que pensamos cada vez menos, que escrevemos cada vez pior, que deixámos de ouvir o outro, que vivemos da nossa razão...
E a lógica do capital deixou de ser uma questão global... Basta observar as guerras que alastram a propósito da gestão dos donativos, aqui e em toda a parte...