28.2.17

O caderninho de notas

Em 1982, mais ano menos ano, a professora V. solicitou-me que a acompanhasse na observação de umas aulas de Latim (profissionalização em exercício), pois temia adormecer durante a tarefa. A ilustre docente já passava, se não estou em erro, dos 65, mas nunca virava a cara à causa da perpetuação da língua que era suposto correr-nos nas veias...
Para os devidos efeitos lá acompanhei a colega, sentando-me junto dela, procurando que o temor da Dona V. não se concretizasse. 
O professor A. (formado em Latim num Seminário nortenho) fez o melhor que sabia, o que, por vezes, era pouco, enquanto que a Dona V. ia passando pelas brasas... Não querendo incomodar nem o formando nem o formador, eu ia anotando alguns dislates, mas sem lhes atribuir grande importância... 
Chegado o momento de atribuir a classificação final, em interminável seminário, o professor A. solicitou uma nota bastante elevada, provavelmente porque dera conta dos momentos de ausência da idosa formadora. Só que não esperava que lenta e pacientemente a professora Virgínia abrisse o seu caderninho de notas e começasse a por em destaque as lacunas de tão ambicioso magister.

Esta pequena história veio-me, ontem, à memória, quando ouvi o eng. Sócrates, estarrecido, porque o sonolento professor Cavaco também teria um caderninho onde ia registando todos os entusiasmos de sua excelência...

27.2.17

Pouco tenho a acrescentar

Pouco tenho a acrescentar ao que, aqui, escrevi em 9.02.2016, a não ser que este ano o Carnaval chegou mais tarde...


«Não digo que o Céu esteja zangado, mas parece. A Igreja Católica inventou o Carnaval de três dias, seguido da Quaresma, para dar cabo das Maias demasiado primaveris e libertinas..., embora atualmente esta não se pronuncie quando os corsos são deslocados para o primeiro domingo da Quaresma.
O Céu nunca gostou que lhe alterassem o projeto genesíaco, mesmo que o tenham feito em seu nome... Já a ideia da existência de quatro estações lhe desagradava - as flores florescem durante todo o ano, cada uma a seu tempo... E nós próprios nascemos e morremos para além das estações.
O Céu apenas reconhece, como princípio estruturante, a semana de trabalho, com direito a um dia de descanso. O mês e o ano são invenções de papas e de imperadores, preocupados com o registo da sua efemeridade que confundiam com a"imortalidade"...
No que me diz respeito, já deixei de andar pelas estações e aborrece-me falar delas, porque há tantos lugares onde o Sol deixou de brilhar e a Chuva de cair ou, então, quando a enxurrada chega, fingimos que a culpa é do Céu.»

No entanto, hoje, o Céu é de cinza e tudo leva a crer que não vai ser necessário adiar os corsos... Por outro lado, são as árvores que florescem... e nós nascemos e morremos independentemente das estações. Quanto ao fingimento, não é preciso que a enxurrada aconteça... ele é permanente, apesar de no Carnaval uma das máscaras poder cair... 


Perante práticas pré-cristãs, a Igreja Católica promoveu alterações que permitissem ligar o período carnavalesco com a Quaresma.Uma prática penitencial preparatória da Páscoa, com jejum, começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, por meio do jejum e da abstinência.Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II contestaram fortemente o carnaval, mas no ano 590 a Igreja Católica aprova que se realizem festejos que consistiam em desfiles e espectáculos de carácter cómico.No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do Carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares.Sobre a origem da palavra carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses “carne vale” (adeus carne) ou de “carne levamen” (supressão da carne) remetem para o início do período da Quaresma. A própria designação de entrudo, ainda muito utilizada, vem do latim ‘introitus’ e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a um novo tempo litúrgico.Os católicos de todo o mundo começam na quarta-feira a viver o tempo da Quaresma, com a celebração das Cinzas, que são impostas sobre a sua cabeça durante a Missa.

26.2.17

Não sei se compreendo o "erro estatístico"

Não sei se é possível um núncio demitir-se do presente por causa de omissões no passado. Parece, no entanto, que é o que está a acontecer. Pessoalmente, consciência atormentada, estaria insatisfeito com a decisão, a não ser que ela me fosse imposta... para proteger um qualquer papa...
Por outro lado, de acordo com o senhor João Taborda da Gama (DN 26.02.2017), não haverá razão para tal alarido e muito menos para que o dito núncio se demita de responsabilidades atuais por causa de um "erro estatístico":

«Estamos a falar de tudo isto precisamente porque estes pagamentos foram declarados - o fisco tem todos os dados, montantes, origem, destino, datas, os números das portas para ir lá bater e fazer as perguntas que quiser. E isto não tem nada que ver com as estatísticas estarem ou não publicadas.»

Não sei se compreendo! Ou o senhor Núncio era incompetente ou, então, é masoquista, pondo-se a jeito para se imolar por uma causa inócua... Quanto ao senhor João Taborda da Gama, tão bem informado, será que nos poderá dizer quantos foram os milhares de milhões de euros que voaram para os offshores e inshores sem conhecimento do fisco... 

25.2.17

Luvas ou comissões?

Comissão - percentagem cobrada sobre negócios ou serviços.
Luvas - recompensa, geralmente ilegal, ao que proporciona ou facilita um negócio lucrativo.

A Operação Marquês, no que toca à corrupção na PT, parece concluída com a responsabilização das duas figuras máximas do grupo. Ricardo Salgado terá pago ao conjunto dos envolvidos uma quantia que ronda os 100 milhões de euros. Semanário 'Sol'.

As notícias só falam de luvas! 
Por mim, tudo o que ajude a economia nacional é bom. Sobretudo, se a produção for colocada lá fora. O que interessa é o crescimento das exportações... Não posso deixar de ver com bons olhos o negócio das luvas... protegem do frio, de acidentes de trabalho, evitam o contágio. Em suma, enriquecem a nação.
Por outro lado, qualquer negócio exige financiamento e é para isso que Deus criou os banqueiros - para financiar. 
Tudo leva a crer que, quando Deus chamou os salgados, lhes terá dito: ide, multiplicai-vos e sede gratos - não esqueçais as comissões a todos aqueles que facilitarem os negócios...

24.2.17

O visto dos 10 mil milhões de euros

O visto é a formula que a autoridade apõe a certos documentos e que lhes dá validade. (Dicionário da Língua Portuguesa, Porto editora)

O núncio, emproado como sempre,  assobia para o lado. 
Por definição, o núncio é o embaixador do papa.
Na conversa que por aí vai circulando, o papa diz que não sabia de nada.
A culpa é dos serviços fiscais que não souberam interpretar o "visto"do núncio.

Porém, consta que os serviços tinham feito uma pergunta ao núncio e, conforme, ele vai dizendo, o que ele fez foi validar a pergunta...
Não querendo por em causa a honra do embaixador, fica-me a certeza de que a resposta à pergunta só pode ter sido dada diretamente pelo papa.
Quanto aos 10 mil milhões, viste-los... e nós a descontar, a descontar...

23.2.17

Nesta estação

Não é a vida que é ingrata!
E pelo que me diz respeito, não espero provas de gratidão. E também nunca as esperei...
(...)
Os laureados não passam de efémeros ídolos de barro que, no meu fraco juízo, acabam por perder a oportunidade de estar na vida em silêncio...
                         o que não significa que não façamos nada por nós e, consequentemente, pelos outros.
(...) 
Quando menos se espera, a corda desfez-se dos nós... e sobra, apenas, uma ténue linha da cor da página em que se perde...
                          e nesta estação não há qualquer fumo de desespero ou de nostalgia, só uma melodia indizível.

22.2.17

O perfil está de regresso

Para uns, trata-se do perfil de saída; para outros, do perfil de entrada...
Uns e outros insistem na necessidade de formatar um homem novo e duradouro, o que pressupõe liturgias bem definidas, com os respetivos sacerdotes bem treinados e acolitados por sicários obedientes mas determinados...
Por mim, bem podem esgrimir os sofismas mais convenientes para o fim em si. Um fim exterior ao indivíduo, pronto a dobrá-lo a vontades mais ou menos messiânicas ou teleológicas...
Num tempo em que todos os dias se anuncia a substituição da inteligência humana pela inteligência artificial, dá-me que pensar esta preocupação com o perfil, com esta idealização do dever humano.

Por mim, habituei-me a lidar com perfis baços, dilemáticos, heréticos, intermédios... e sempre que deles me aproximei, compreendi que havia algures uma chama, que não era minha. Uma chama que eu não tinha o direito de configurar...
Por uns tempos, mostrava-lhes algumas ferramentas, por vezes, fora de prazo... e com elas sempre fizeram o que bem entenderam...