7.1.17

Mário Soares, a boa moeda

O meu tempo teria sido bem diferente sem a ousadia de Mário Soares! Antes do 25 de Abril sempre soube acolher e defender todos os que pugnavam pela liberdade. Depois do 25 de abril, soube enfrentar as forças que tinham uma visão restritiva da liberdade...
Consciente da fragilidade económica de Portugal, Mário Soares abriu-nos as portas da Europa e do Euro, apesar de bem saber que o interesse dos grandes da União Europeia era distinto do caminho que o país precisava de trilhar... Mas sempre assim fora no passado!
A ousadia de Mário Soares devolveu Portugal à Europa e, no meu caso, livrou-me de uma guerra colonial sem futuro.
Para mim, basta-me este Mário Soares! O outro, o de que tanto se fala, neste momento, não me interessa.

6.1.17

A moeda errada

As palavras escritas correspondem cada vez mais à moeda errada. O seu valor tem vindo a depreciar-se, de tal modo que poucos as leem e os que o fazem calam-nas ou desvalorizam-nas sob a capa do relativismo... da subjetividade.
Esta tendência anda a par com a uma certa ideia de democracia, em que uns tantos insistem em manter (ou recuperar) privilégios de forma consuetudinária...
Se, por uns tempos, a palavra escrita foi uma forma de resistência, isso significava que ainda havia quem se deixasse persuadir pelo argumento ou pela emoção...
Hoje os argumentos são tão incongruentes e as emoções tão artificiais que a pluma já só procura o sulco para nele definhar.

5.1.17

Para que serve a escola?

(Esta nota não visa responder à pergunta: - "Que modelo de gestão para uma escola democrática?" )

Quando o adjetivo pesa mais do que o nome, fico preocupado.
Creio que, num regime democrático do séc. XXI, a pergunta deveria ser: Como construir uma escola que dê resposta às atuais necessidades de educação e de instrução?
Para isso, e não é tarefa fácil, é preciso elencar os objetivos, numa perspetiva de futuro, definir os modos de operacionalização, sem esquecer os diversos recursos que, também eles, serão distintos dos tradicionais...
Sem esta clarificação, de pouco serve refletir sobre modelos de gestão e, em particular, sobre a democraticidade do modelo, pois a participação de todos os atores na decisão, por si, não resolve a questão principal...
De nada serve perspetivar o futuro com os olhos do passado, porque, a continuarmos com a atual disposição mental, a escola será cada vez mais obsoleta.

4.1.17

Aqui, neste lugar, as janelas abrem para um coreto

Aqui, neste lugar, as janelas abrem para um coreto, um dos muitos que existem nesta cidade de Lisboa. Num relance, avisto seis bancos de jardim, quase todos ocupados por silhuetas solitárias. Nas portas do coreto, dois cachos de jovens encontram alternativa à vida escolar. Falam ininterruptamente vá lá saber-se do quê, talvez das imagens que correm por entre os dedos... Ao lado, a esplanada do quiosque, quase sempre repleta de estudantes, forasteiros e aliciadores diversos...
O jardim é constantemente atravessado, sem que o que ali vai acontecendo desperte qualquer tipo de atenção - é um jardim assimétrico - no centro de vias rodoviárias com fluxos de trânsito irregulares... A verdade é que chamam ao lugar Praça José Fontana, embora ninguém saiba quem foi o patrono, qual foi o seu contributo para a criação do partido socialista oitocentista nem para o lançamento dos movimentos sindicais... Envergonhado, também anda por lá um tal Henrique Lopes de Mendonça, autor da letra da marcha A Portuguesa (Hino Nacional). Parece que o município lisboeta, para que o dito Henrique Lopes de Mendonça não permanecesse na clandestinidade, lhe atribuiu o nome ao jardim...
Entretanto, lá fora, só o céu escureceu. E aqui dentro, espero que alguém queira saber quem foram José Fontana e Henriques Lopes de Mendonça... Bem posso esperar!

3.1.17

Desde 2 de janeiro de 1975

Ao serviço da instrução pública desde 2 de Janeiro de 1975, comecei hoje o dia escolar como se nada tivesse ocorrido antes...
Na sala de professores, ainda me perguntaram para quando a aposentação, mas a minha reação foi de indiferença: respondi que o melhor é questionar o Vieira da Silva... ou a Coligação que diz que põe e que repõe, porém, no que me diz respeito, vejo cada vez menos...
Consequentemente, voltei a enfrentar a turma das dez horas com a costumeira rotina, e lá ataquei o Fernão Lopes e a revolução de 1383-1385, que é como quem diz, lá me esforcei por contextualizar o conteúdo, ordenando os factos, a nosso favor, porque o D. João de Castela decidira desrespeitar os tratados com o pretexto de que a "aleivosa" lhe prejudicava a ideia de estender a hegemonia de Castela a toda a Península Ibérica...
Claro que os jovens saíram apressados, sem querer saber de "tempos de mudança"...
Lá, no fundo, a culpa disto tudo é do velho Álvaro Pais e de um letrado, de seu nome, João de Aregas, hoje esquecido na Praça da Figueira...

2.1.17

É poucochinho

«Il faut épouser son temps», avait un jour lancé le peintre Daumier à Ingres. «Et si le temps a tort?» lui avait répliqué le néo-classique. (Grégoire Delacourt, 2015, Les Quatre Saisons de l'Été, pp 233-234, Le Livre de Poche.

Daquilo que ouvi, ontem, ao Presidente da República, fiquei convencido de que ele sabe agradar a todos, pois é isso que todos esperam dele.
Uns ficaram satisfeitos porque ele elogiou a Coligação; outros ficaram agradados porque ele enviou recados à necessidade do Governo corrigir o rumo, designadamente em termos de investimento, desenvolvimento da economia e da diminuição do desemprego...
E tudo o que disse foi para uma plateia que parece existir para além dos agentes político-partidários - uma plateia que sorri facilmente, que se entusiasma com discursos redondos, sem espinha dorsal.
O Presidente da República de ontem fez-me lembrar um ator que sobe ao palco para agradar à plateia, independentemente das convicções de cada um... talvez porque as convicções de cada um sejam cada mais frágeis...   
Há quem diga que o discurso foi muito bom, pode ser, mas não vi (nem ouvi nele) nada que possa desfazer as contradições que minam a Coligação... a não ser o otimismo, a esperança!

1.1.17

Aqui, nesta terra, as portas abrem para o Céu

Aqui, nesta terra, está tudo encerrado, exceto a Igreja cujas portas abrem, mas para o Céu...
Aqui nesta terra, não é possível ter acesso ao Magazine de Notícias, do DN, em edição especial, que dá conta dos trabalhos de Guterres, no passado e, sobretudo, doravante nas Nações Unidas... Não é possível ter acesso à sombra de Guterres, a esse enigmático Melícias, doravante diretor espiritual da humanidade...
Creio que, até hoje,  a Terra nunca teve um diretor espiritual que lhe pudesse abrir as portas do Céu... 
Os Poderosos deste mundo desunido que se cuidem!