29.11.16

Pouco importa...

Pouco importa se eles compreendem, pouco importa se o novo dia é frustrante, pouco importa se  nos desconsideram...
... eu trabalho para que eles tenham esperança.
No entanto, asseguro, desde já, que depois de morto, eles não poderão contar mais comigo.
De nada importará o que tenha feito, dito ou escrito.
Felizmente! Não há nada mais aborrecido do que uma assombração!

28.11.16

Só querem que eu os não defraude

Eles querem bons resultados e quando os não obtêm a culpa é minha.
E eu até estou de acordo com eles - até me encontrarem, o seu desempenho era classificado como excelente...
Tento ouvi-los, mas não consigo - não respondem ou cavaqueiam entre eles, como se eu não estivesse presente.
Tento lê-los, mas fico destroçado - não compreendem, não interpretam, não redigem com um mínimo de correção.
Alertados para a situação, não se preocupam. Deixam de ouvir.
Preferem memorizar definições estrangeiradas, descontextualizadas.
Porquê?
Porque compreender, interpretar, definir, textualizar... dão trabalho... e exigem atenção, disciplina, rigor.
E afinal eles só querem bons resultados!
Só querem que eu os não defraude... que lhes devolva o tempo em que eram felizes.
Que enfado! Para eles e para mim!

27.11.16

A posse arruína e conforta

Mesmo se desnutridos, deslavados  e engelhados, poucos são os que desprezam o luxo. Vejo-os nos passeios a olhar as montras como se a sua posse os compensasse do fracasso a que se sabem condenados...
A posse arruína e conforta. Ser o outro idealizado é tão deslumbrante que a montra deixa de ser obstáculo. Lá dentro a tentação fácil, a crédito, baila esfuziante, indiferente à sorte dos que se arrastam nas ruas e nas vielas...
Agora que o Natal se aproxima, os vendilhões ( e os seus criados) não poupam na iluminação, mesmo se os clientes desnutridos, deslavados e engelhados já não têm dinheiro para pagar a fatura de eletricidade... e vão ter que passar frio e acabar por dormir na rua...
Na quadra natalícia, o mafarrico anda à solta .

26.11.16

Tempo social

O conceito de 'tempo social' anda associado ao desenvolvimento industrial, à urbanização e ao surgimento de novas tecnologias... com início no século XIX.

Para mim, o tempo social é um pouco diferente. Vejo-o constituído por um conjunto de indicadores de uma ação externa que determina a atitude do indivíduo em qualquer idade, estando presente em todas as épocas e em todos os lugares, mesmo que o avanço civilizacional seja reduzido.
Nesta perspetiva, a ação de cada um de nós é condicionada por cronótopos distintos, em função do lugar, da idade e das instituições que nos enquadram.
Deste modo, a liberdade individual não passa de uma quimera, como bem sabem todos os rebeldes que um dia sonharam e quiseram incrementar uma qualquer forma de revolução. E por mais que nos custe, a indisciplina é, também ela, a prova de resistência ao tempo social, que, por vezes, deve ser pensado na sua pluralidade... Do sonhador Fidel de Castro nada tenho a dizer, embora ainda não tenha parado de pensar no comentador de 'política cubana' que, na RTP 1, afirmou que o americano Trump irá ajudar a "amortizar a morte de Fidel"...
AMORTIZAR A MORTE!

Enfim, em todos os atos que, hoje, executei, vejo com dificuldade que tenha iniciado algum que não fosse determinado pelo cronótopo em que me inscreveram - fazer compras, classificar testes,  ir à Cinemateca ver o filme de Raffaello Matarazzo, CATENE, estacionar num parque que me cobrou 5, 25€ por duas horas... até as lágrimas despoletadas pelo melodrama, sem esquecer este apontamento.

25.11.16

Idadismo, o que é?

- O que é o idadismo? A palavra existe?
- Sim, existe como designação de uma atitude discriminatória em relação às pessoas idosas.

No Auditório Camões, a Associação "Cabelos Brancos", criada por duas "jovens" Ana Caçapo e Luísa Pinheiro, promoveu uma "tertúlia" sobre o tema "idadismo", tendo como convidados Bernardo Barata e Carlão, distintos produtores, compositores e músicos. 
Esta atividade, incluída no PAA da Escola Secundária de Camões, visa provocar nos jovens estudantes  do ensino secundário uma nova abordagem do processo de envelhecimento.
Através de perguntas dirigidas aos convidados - "Como é que cada um pensa a sua velhice?"; "Já se imaginou velho?"; "A idade limita o exercício da profissão?"; "A vida na estrada contribui para um bom ou mau envelhecimento?" -, a moderadora procurou que a plateia juvenil se questionasse sobre a sua relação com os idosos... e também com a idade, pois parece que, afinal, sempre existe um "antes" e um "depois"... ou ainda será cedo para pensar nisso?
Não querendo deixar, aqui, nenhuma apreciação crítica, registo a boa receção das turmas presentes e, em particular, a colaboração de alguns alunos, recentemente chegados a Portugal, e com entendimentos distintos do nosso modo de encarar o envelhecimento. 

24.11.16

Não sei se é do frio...

Não sei se é do frio, mas sempre que o Inverno se anuncia, os burocratas da avaliação regressam.  Querem dar dignidade ao sistema que não se sabe se começa nas escolas e termina nos exames ou, pelo contrário, se os exames condicionam de tal modo o trabalho do professor que este não passa de uma marionete governada por "doutores", editoras, encarregados de educação, sem esquecer o pessoal de cada partido que vai ocupando os salões das fundações, dos institutos, dos ministérios, das secretarias regionais, camarárias e outras que tais...
O professor, à mercê dos interesses do momento, já não faz parte desta narrativa... a não ser que seja tão bestial que, também ele, consiga engrossar a fila dos fregueses que se preparam para dividir entre si o bolo orçamental.
Agora, são os alunos que vão ver alterados os modos de avaliação; amanhã, serão os próprios professores...
E o pior são os patinhos que acreditam que as migalhas lhes vão chegar, quando a lei, há muito, os condenou a não sair do charco... 

23.11.16

O étimo

Aluno: - Qual é que é o étimo?
Professor: - É sempre o defunto!

E ao defunto não se pede que se mova... Dos filhos, legítimos ou bastardos, já não se pode dizer o mesmo, a não ser que tenham, também eles, ficado pelo caminho.

Ora, digam lá, quem é que quer ser étimo?

«E por en tenh' eu que é mui melhor
de morrer homem mentr' lhi bem for.»
     Martim Moxa