6.3.16

Eu, terrorista, confesso que nunca entrei na Laurentina...

Não tenho tempo para o ler, mas hoje comprei o Diário de Noticias.
Por entre afazeres vários, como classificar e corrigir testes e elaborar um novo teste para os alunos absentistas - cada um com o seu motivo, em que nunca pesa o 'castigo' imposto ao professor, dou uma olhadela ao periódico.
Descubro que o DN oferece toda a última página a um cronista (?) chamado João Taborda Gama, embora desconfie que a oferenda seja da Laurentina Restaurante, o Rei do Bacalhau...
Por associação com o teor dos testes que vou saboreando, ainda cheguei a pensar que se trataria de um velho descendente do Gama de 1498, mas logo relembrei outro ascendente mais recente de águas profundas...
Este Gama, tal como os Gamas retratados n'Os Lusíadas, embora vá escrevinhando, não revela grande educação literária. Parece, no entanto, ter uma conceção muito própria do poder local.
Ao lê-lo, percebi que eu devo ser um daqueles "terroristas" que insiste que Portugal está reduzido à pequenez anterior a 1415 - à exceção das paternas ilhas atlânticas - que Portugal perdeu o Império e está a perder a língua...

Diz o Taborda da Gama:

«A existência de prosperidade (...) só será possível com a criação de regiões administrativas (...), sem o terrorismo do somos um país demasiado pequeno para isso. (...) Mais autonomia significa, por exemplo, cada município poder decidir se quer ou não ter IMT, e até se quer ou não ter imposto que tribute as sucessões e as doações(sic)

Eu por mim contentava-me com a eliminação do IMI! Será que o Bernardino Soares também acompanha o Taborda da Gama?

5.3.16

De nós, nada acusa

«Inutilmente parecemos grandes.» FP /Ricardo Reis

Ser grande é uma aspiração humana. Ambição, de seu nome.
A dado momento, nada parece tolher esse impulso. Pulsão milenar, o ser humano não hesita em dar-lhe expressão, pouco importando as vítimas que vão tombando a seus pés...
O discurso contra os excessos da ambição de ser grande já não faz qualquer sentido.
Motivo?
Porque este tipo de discurso é sempre contra a ambição do outro. De nós, nada acusa.

4.3.16

A lição de Fernando Rosas 'O Estado Novo e os Fascismos'

Na Escola ( Liceu Camões) que testemunhou a ascensão e a queda do fascismo, e que foi durante muito tempo um dos pilares do Estado Novo, mesmo que no seu seio despontasse e crescesse a oposição ao regime ou que das suas janelas Humberto Delgado tenha ousado desafiar Oliveira Salazar, Fernando Rosas proferiu, esta manhã, uma lição soberba, em termos de explicação dos fatores que, após a primeira Grande Guerra, levaram ao poder, na periferia da Europa, sem esquecer a humilhada Alemanha, o fascismo (e o nazismo) que, em nome da Nação, tudo fez para destruir definitivamente os avanços civilizacionais resultantes da Revolução Francesa...
Fernando Rosas mostrou que o fascismo conseguiu atrair simultaneamente as elites conservadoras e empresariais, e todos aqueles que se viram reduzidos a uma vida precária e sem horizontes pela guerra, pela incompetência dos partidos de inspiração liberal e pelo crash da Bolsa de Nova Iorque, em 24 de outubro de 1929. 
A síntese que Fernando Rosas fez em 90 minutos foi certamente estimulante para quem gosta de conhecer o passado; no entanto, o mais importante da lição residiu no tom pedagógico com que procurou que o auditório entendesse que hoje, na Europa, sobretudo nas suas periferias, estamos a ressuscitar os fanatismos, os extremismos e as soluções do passado...
(...)
Uma das razões que justificam a reabilitação do Liceu Camões é precisamente porque, para o bem e para o mal, ele é uma testemunha fundamental de mais de 100 anos, cujo memorial não deverá esquecer os diversos contributos que Fernando Rosas lhe tem dado. 

3.3.16

Nos ramos dos plátanos...

Como se não tivesse nada para fazer, pus-me a contar os plátanos. Dez, em cada pátio. Dez troncos, erectos sobre raízes invisíveis, alimentadas por arroios secretos. De cada tronco jorram quatro bifurcações, sobre as quais jazem os ramos, por ora, nus de folhas e de pássaros...
O arquiteto deve ter amado o compasso e a simetria e talvez, um dia, tivesse lido 'Os Lusíadas'. Para cada Canto, um plátano, e como o lugar era escolástico, em vez de um pátio, imaginou dois, sem que saibamos qual deles é a réplica e qual o original.
Por capricho do legislador, o lugar passou a ser de Camões, em vez de ter sido apadrinhado por Herculano, o romântico.
E, por uma vez, o legislador acertou, já que Herculano preferia o azeite às alergias de cada primavera...
Como se não tivesse nada para fazer, pus-me a pensar na esterilidade da simetria, na clausura da harmonia, na fatuidade das luzes... e fico-me por aqui, antes que algum varandim venha abaixo... Entretanto, vou colocar o avental e convocar os espíritos do lugar, na expectativa que saiam das Caves e, por um momento, poisem nos ramos dos plátanos... 

2.3.16

Não!

Talvez fechar os olhos
Talvez cerrar os ouvidos
Talvez ser cometa...

Esperar talvez
Olhar mais uma vez
Ser cúmplice
Ou ser cometa...

Não!
Tenho horror à podridão.

(No fundo da sala, os pequenos e as pequenas abrilhantam o cavaco, estrelejam no reino da vulgaridade. Ainda sobram, no entanto, uns tantos rostos ávidos de saber, e avessos à batota...

O palácio de Antero de Quental

O palácio da Quinta do Relógio, em Sintra, está à venda por 7, 5 milhões de euros! (notícia)

Sintra, palácio, quinta, relógio - palavras distantes. Talvez voltar a vivê-las se... Lembro-me, agora, que, à falta do vil metal, bem posso sonhar, ou, então, visitar o Festival Periferias, organizado, por estes dias de março, pelo João de Mello Alvim.

Sonho que sou um cavaleiro andante,
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

No entanto, o sonho não é de alegria, quando as portas de ouro se abrem:

Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais.

1.3.16

A precisar de esclarecimento...

A dívida pública aumentou 3.344 milhões de euros em Janeiro face a Dezembro para 234,4 mil milhões de euros, divulgou hoje o Banco de Portugal.

Estou a precisar de esclarecimento. A dívida pública continua a agravar-se!
Espero que o atual Governo já esteja em condições de dizer qual é o seu papel neste agravamento. E de pouco me serve que queira imputar as culpas ao anterior Governo ou às forças de esquerda que o suportam ou o armadilham a cada passo...
Em nome da verdade, António Costa precisa urgentemente de prestar contas. E esclarecer se a situação é reversível. E como! Se não sabe, o melhor é começar a arrumar as botas.
Nesta matéria, de pouco serve tapar o sol com uma  ou várias peneiras...
(...)
Entretanto, o António Costa deve lembrar a João Soares que não precisamos de um ministro da cultura trauliteiro.