30.9.15

Ser enfermeiro na urgência do Hospital de São José

Ser enfermeiro na urgência do Hospital de São José é uma missão deveras difícil, sobretudo quando o número é reduzido e o dos pacientes cresce a todo o momento. 
Hoje passei cerca de 9 horas no SOS, como acompanhante, e aquilo que observei merece uma palavra de apreço. Por mais que o pessoal de enfermagem procure responder às necessidades dos doentes, estes sofrem de problemas tão diversos que só uma equipa multidisciplinar alargada poderia responder a todas a solicitações.
Qualquer mediano observador dá conta de que os doentes que ali entram são idosos, com patologias muito diferenciadas e sobretudo mal acompanhadas - onde é que andam os assistentes sociais? - e indivíduos que se debatem com múltiplos episódios, uns crónicos e outros inesperados, mas todos necessitam de uma resposta personalizada.
E essa resposta é que não acontece por falta de meios humanos, por falta de celeridade no diagnóstico e na resposta dos médicos.
Ao fim de algumas horas, dei comigo a pensar na falta dos enfermeiros que saíram do país, não só na quantidade, como, sobretudo, na qualidade...
Ser enfermeiro na urgência do Hospital de São José (como nos restantes) exige um grau de estoicismo só alcance de muito poucos... e ainda por cima o doente espera um sorriso, uma esperança imediata e até uma mentira...

Para além de todos os partidos afirmarem que defendem o Serviço Nacional de Saúde, não sei o que é que pensam fazer para tornar as urgências menos dolorosas e os profissionais que ali trabalham mais respeitados. Não estou a referir-me a condecorações, mas a condições de trabalho...  

29.9.15

Para que serve o acidente quando a substância não existe?

Para que serve o acidente quando a substância não existe?

Na espécie humana, como noutras espécies, verdadeiramente, não há raças, e muito menos "puras" e "impuras", o que há são traços distintivos epidérmicos que, por razões de poder, são sobrevalorizados, dando origem a culturas segregacionistas e esclavagistas...

 O recurso à noção de "raça" foi sempre um pretexto para separar, escravizar, humilhar e eliminar.

Apesar da omissão do termo, no discurso político atual, os candidatos a deputados insistem em separar os "puros" dos "impuros", como se os "puros" pertencessem a um grupo nascido em estado de "graça", incapaz de sujar as mãos no lamaçal que é o exercício do poder...

( Por onde é que andam os anarquistas?)

28.9.15

Se Portugal ainda fosse uma nação...

Se Portugal ainda fosse uma nação - longe de mim, chamar-lhe 'pátria' ou 'mátria" - a campanha eleitoral seria de união e não de divisão como tem vindo a acontecer... 
Os problemas são antigos, diria que datam do tempo em que a Ordem de Cristo entrou em decadência. Apesar da apregoada multirracialidade, a nação nunca, em termos demográficos, foi capaz de suster o combate que lhe foi sendo movido por nações cada vez mais poderosas... Apesar do crescimento da diáspora nas várias partes do mundo, esta nunca foi efetivo parceiro cultural, económico e financeiro, ao contrário do que foi acontecendo, por exemplo, com os judeus...
Por outro lado, os vizinhos sempre foram considerados 'inimigos' e olhados com altivez e desprezo.

Até que, condenados ao isolamento, nos atirámos para o colo da Alemanha, verdadeiro pulmão da União europeia, convencidos de que poderíamos dormir descansados sob a asa do falcão germânico.

O que esta campanha eleitoral vai mostrando é a incapacidade dos partidos (todos) elaborarem um programa nacional capaz de nos libertar das opções erradas, não apenas do tempo de Sócrates ou do tempo de Passos Coelho, mas do século XVI para cá...
Será que algum dos candidatos a deputados leu o opúsculo de Antero de Quental "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares"? 
Provavelmente não leram, a começar pelos socialistas! Talvez seja esse o motivo que explica que oficialmente o PS tenha sido fundado na Alemanha, no século XX e não, no século XIX, em Portugal... Pode parecer que a diferença nada acrescenta, mas isso é ignorar que os partidos portugueses pós-25 abril, em regra, foram financiados por organizações partidárias estrangeiras...

Como diria Fernão Lopes, em tradução livre, diz-me quem te encheu o bucho que eu digo-te a quem é que tu serves.

27.9.15

A certeza é menos falsa do que a verdade

Apesar de tudo, não creio que Almeida Garrett se tenha cansado da política, embora se tenha cansado dos barões - os asnos que, depois de expulsarem os parasitas dos frades, se abotoaram com tudo o que tivesse valor...
Depois do 25 de Abril,  Almeida Garrett foi varrido para o caixote do lixo pelos novos barões, amantes da propriedade e da sacristia e, em muitos casos, do avental e do compasso, deixando por isso nos programas escolares O Frei Luís de Sousa, obra de muitos méritos, mas sem qualquer perspectiva de futuro. 
Por entre a catalogação de livros e o início da leitura do romance TUNDAVALA de A. Rego Cabral, em nenhum momento do dia pensara em Garrett. Pensara, sim, no meu desconhecimento de quem foi Álvaro Rego Cabral (1915-2010) e, principalmente na razão que me levara a adquirir tal livro num alfarrabista lisboeta. O exemplar está autografado, mas não terá sido esse motivo... Entendo agora que o Senhor foi um engenheiro ilustre nos territórios ultramarinos, responsável por caminhos viários e ferroviários, sem descurar as minas e, sobretudo, amigo do seu amigo...
Nas páginas já lidas, dedicadas a Armindo Monteiro, Álvaro Rego Cabral ( que, também, publicou sob o curioso pseudónimo de Estorieira Santos), há, no entanto, uma linha de raciocínio que desperta a minha atenção: a História que nos ensinam é um cesto de mentiras, o romance, dito, histórico ainda é mais preconceituoso do que a História... 
A certeza é menos falsa do que a verdade, porque a primeira resulta da experiência individual, e a segunda tem origem no poder dos barões, dos novos barões, dos novíssimos barões...  

26.9.15

Um ou dois baldes de água...

Alimentar um blogue é um pouco como alimentar um burro: um ou dois baldes de água e uma mão cheia de feno; nos dias festivos, meia dúzia de favas... E aí o burro zurra e, em certos casos, dá um par de coices. 
O burro deste dia não teve direito a favas e viu-se obrigado a comer uma sopa de espinafres com grão, bem salgada. Mas nem tudo foi mau!
Por entre os afazeres - todos eles exigindo muita contenção, não fossem os cascos disparar sem aviso prévio - o burro, ao som dos tambores, deixou-se ficar parado à espera que o Bernardino Soares terminasse a conversão de uma senhora eleitora... A prédica foi tão longa que o burro acabou por seguir viagem, recolhendo-se na leitura do jornal i, apesar das testemunhas de Jeová terem tentado aliciá-lo para reinos mais espirituais, logo quando o pachorrento asno se deliciava com as aventuras do Manuel Maria Carrilho e da Bárbara Guimarães e, particularmente, com a entrevista dada pela Manuela Moura Guedes, que ama o Passos e o Portas, mas que desconfia da incontinência verbal do Papa argentino... Papa a sério, para ela, só o alemão!

25.9.15

A burra das finanças dança de contentamento

Nestes dias, só há boas notícias! 
Os cobradores de impostos andam felizes. O dinheiro entra a jorros na burra das finanças. Os juros e as dívidas baixam. A União Europeia aplaude!
Há dinheiro para as empresas, para os agricultores, para bolsas, para a música e até para a saúde...

Há, no entanto, um pequeno problema: para que a burra das finanças dance de contentamento é necessário que alguém tenha sido esburgado.

Resta saber se os esburgados, no dia 4 de outubro, vão votar na burricada. 

24.9.15

O ministro pergunta ao ladrão

Há um ministro português que dorme descansado, porque perguntou ao ladrão se ele lhe tinha assaltado a casa. O bom ladrão assegurou-lhe que não... (discurso relatado de uma conversa entre Pires de Lima e a administração da Autoeuropa.
Piedoso, o ministro acredita que nada de mau vai acontecer ao plano de investimento da Autoeuropa em Palmela. 
O problema, em Portugal, é que não é possível confiar nos conselhos de administração, presidentes, altos funcionários...

Parece que vamos finalmente conhecer os factos de que Sócrates vem sendo acusado! A curiosidade é que a informação chega em plena campanha eleitoral.