8.7.14

A máscara caiu: Alemanha, 7 - Brasil, 1

A encenação não basta!
A emoção é inimiga da organização!
O individualismo mata o coletivo!

Com Scolari, já tinha sido assim no Europeu.
Com Bento, já tinha sido assim no Portugal - Alemanha...
Scolari nada aprendeu

A continuar assim, o melhor é proibir as crianças de ir ao futebol!

7.7.14

A intensidade e o peso estratégico do nosso relacionamento com Espanha

Dirigindo-se a El-Rei Filipe VI de Espanha, que não de Hispânia, o nosso Presidente, Cavaco Silva, fez-me correr para o bloco de notas: « A intensidade e o peso estratégico do nosso relacionamento…» Apontamento registado, estaquei e fiquei a pensar na profundidade do pensamento…

Sem palavras, procurei na memória e esta devolveu-me, sob um verde intenso, o peso da nossa comum miséria: barracas escondidas, longe do olhar real e presidencial…

A estratégia do relacionamento é demasiado vaga para que os povos hispânicos a possam abraçar, acostumados que foram ao afrontamento.

6.7.14

Ainda cheiro a diluente!

Domingo! Não cumpri nenhum dos rituais em que fui educado. Não fui à missa. Não descansei. Não vesti fato domingueiro...
Ainda cheiro a diluente! Uma toalha colara-se ao tampo (tempo?) da mesa da sala, deixando uma penugem esbranquiçada que só com muito paciência e energia consegui eliminar. À medida que descolava a substância viscosa ia pensando nos elos que me prendem ao passado, na dificuldade em superá-los. Compreendi, no entanto, que escrever é aplicar um diluente que pode dissolver a inabilidade para cortar com o passado em que fui formatado...
Talvez por isso acabo este domingo a sorrir da viagem interminável entre a charneca e as primeiras casas da vila de Sintra, depois de ter dobrado o Arco do Ramalhão, e a pensar que a formação humanística para além da Literatura não deveria descurar a Filosofia...
Mas esse é outro cavaco, com perdão de Sua excelência que amanhã irá receber sua alteza, Filipe VI de Espanha... 

5.7.14

Agendado


Por ordem:
Sangrado - a veia, entretanto, vai-se escondendo; a analista entra em desespero e eu acabo por ter pena dela.
Arrumado, no triplo sentido da palavra - arrumo e sou arrumado, sobretudo, no supermercado; a cada passo, maior cansaço.
Aliterado - basta voltar atrás, e vejo-me arrasado por três aliterações: estado em que me encontro por força da agenda  que me obriga a nivelar ou a desnivelar 40 provas de Literatura Portuguesa...
Entediado - o aspirador parece querer sugar-me o pó que me seca as sinapses...
Esperançado - e se os artistas da bola de hoje tirassem o protagonismo aos caceteiros de ontem...

... e mais não acrescento para não incomodar nem os coelhinhos, nem os porquinhos, nem as galinhas!

4.7.14

A agenda em forma de labirinto


A agenda responde por mim. 
Devo-lhe obediência plena, e se não cumprir, alguém ficará muito admirado pois toda a gente espera de mim pontualidade e eficácia...
Entretanto, eu próprio registo na agenda tarefas e compromissos a que não poderei escapar. Por enquanto, ainda consigo gerir os eventos, embora alguns comecem a sobrepor-se e, sobretudo, a questionar a razão de ser dos restantes.
Legalmente, estou obrigado a cumprir uma quantidade de tarefas medíocres e, se o não puder fazer, serei penalizado. 
Legalmente, estou obrigado mesmo naquelas circunstâncias em que a vida se revela escassa... 
A Lei impõe-se à Vida, ainda que uns tantos insistam em falar na "lei da vida"... Nunca percebi que "lei" é essa, pois a resposta acaba sempre em Morte.
E em tudo isto o mais absurdo é o papel que tenho tido enquanto regulador, avaliador, coordenador. Também eu determino a agenda dos outros, esperando deles pontualidade e eficácia, em nome de uma Lei que se impõe à Vida...
Prisioneiro deste labirinto, escrevo qual Dédalo, mas a minha sorte parece ser a de Ícaro... 
De qualquer modo, agendo, desde já, que, quando as minhas asas derreterem, não quero que os pingos sobrantes sejam objeto da benção e de acompanhamento de qualquer presbítero. De preferência, os pingos sobrantes deverão ser lançados ao vento na serra mais próxima...

3.7.14

Triste polémica sobre o lugar de Sophia...


Agora que Sophia foi afastada para o Panteão Nacional, surge a polémica sobre o lugar da escritora no novo programa de Português do Ensino Secundário.
Triste polémica! 
Sophia faz ou não parte do "corpus" de leituras obrigatórias na disciplina de Português? - Sim. O MEC até se preocupou em selecionar a obra, tal como fez  para os restantes autores, obrigando os professores a ministrar a obra selecionada - Navegações - e não outra, eventualmente, mais crítica ou mais artística...
Na verdade, para o MEC o que é importante é não dificultar a vida ao IAVE. Este, apadrinhado pelo MEC, encontrou uma receita de que não quer abdicar para construir as provas de exame nacional e, deste modo, condicionar a criatividade dos docentes e facilitar a vida às editoras...
O que está em causa para o MEC não é o lugar de Sophia no Programa de Português, mas, sim, uma certa visão da língua e da cultura. Basta pensar no argumento de que Sophia pode ser estudada no âmbito da leitura "orientada", "projeto", "contrato" ou até na disciplina de Literatura Portuguesa... Para o efeito, fazendo prova de grande argúcia, o MEC escolheu como leitura obrigatória Contos Exemplares, obra que, no pós-25 de abril, teve o papel de explicar o que era uma forma simples, mas culta... Será que o MEC sabe quantos alunos frequentaram a disciplina de Literatura Portuguesa no presente ano letivo?

2.7.14

O Panteão, o pior de todos os males…


A palavra
Heraclito de Epheso diz:
«O pior de todos os males seria
A morte da palavra»
Diz o provérbio do Malinké:
«Um homem pode enganar-se em parte de alimento
Mas não pode
Enganar-se na sua parte de palavra»
Sophia de Mello Breyner Andresen, O nome das coisas, 1977
Não me posso associar à decisão da Assembleia da República, até porque a tradição ensina que quem é trasladado para o Panteão acaba por ser esquecido…