9.8.13

Urbano Tavares Rodrigues (1923 - 2013)

Sempre que alguém me fala de Urbano Tavares Rodrigues, sorrio por instantes.
Sorrio da sua bondade, da sua leveza, da sua crença na fraternidade e na solidariedade, e, sobretudo, do modo como continua a alimentar essa Instituição que poderia ser a Literatura, se esta não tivesse sido colonizada por uma casta de sacerdotes que, pouco a pouco, nos afastam do gosto da leitura...
Pode não ser verdade, mas, para mim, Urbano Tavares Rodrigues é um homem naïf que nunca me pediu nada, e que os deuses decidiram premiar, deixando-o ficar um pouco mais para que o sorriso não vire esgar. Caruma, 4.11.2008)
 

8.8.13

O que é (pouco) natural...

«O que é natural estende-se a toda a natureza, mas o produto da arte ocupa apenas um espaço limitado.» (Goethe, Fausto)

Se observarmos a foto 2, verificaremos que o artista, apesar do acrobático movimento, quase que não é visto pelos circundantes. Estes, alinhados, esperam um brinde, qualquer coisa do género. Por mais que insistamos em arrancar o homem à natureza, lá, no fundo, ele procura sempre um benefício, uma recompensa... 

7.8.13

Preocupação

A PREOCUPAÇÃO ( diante da casa de um rico): - Vós minhas irmãs ( a FOME, a DÍVIDA, a ANGÚSTIA) nada podeis e nada ousais. Só a preocupação pode deslizar pelo buraco da fechadura. Goethe, Fausto (adaptado).
 
Na realidade, não sei se a Preocupação consegue incomodar um rico. É um universo que não frequento! Sei, todavia, que os ricos (e os seus servos) estão a gizar um caminho em que, por mais que tentemos esquecer os problemas, viveremos em permanente preocupação dia e noite.
E essa permanência da preocupação, constantemente alimentada pela comunicação social, acabará por nos impedir de dar um passo, de sonhar, de dormir.
Por este caminho, acabaremos expulsos da categoria de contribuintes e de consumidores, deixando objetivamente de contar...
Vai ser necessário que a  Preocupação destes novos párias comece a deslizar pelo buraco da fechadura de quem nos desgoverna... 
 

6.8.13

Vivamos alegremente!

« A ação transporta-se para uma corte imperial da Idade Média. (...) O general queixa-se das tropas e dos oficiais que reclamam  os soldos em atraso, e ameaçam a tranquilidade do país. O tesoureiro responde-lhe que os cofres estão vazios, que cada qual vive para si, e que a riqueza do império foi devorada pelas guerras e pelas divisões dos partidos políticos. (...) No entanto o astrólogo fez observar que o Carnaval estava próximo, e que convinha passá-lo com alegria. Bastava ter fé no futuro e fazer uma última exibição de luxo e abundância pública.» Goethe, Fausto, Fausto na Corte do Imperador.
 
Por maior que seja a tragédia, há situações e comportamentos que se repetem: o presidente da república, o primeiro ministro, os deputados, os banqueiros, os tribunais, todos de férias! Simultaneamente, os mefistófeles engendram as extorsões que irão impor ao país...
 
« A partir de quarta-feira de Cinzas... - decretou o imperador - começaremos o nosso trabalho! Até lá vivamos alegremente!» Goethe, op.cit.
  

4.8.13

Um livro imperdível

Há livros que devemos ler, mas que podem ser lidos em qualquer altura, mas há outros que é imperdoável não os ter lido no momento certo. No caso, é imperdoável que aqueles que se preocupam com o governo da coisa pública não o tenham feito à data da sua publicação - 1995. Estou a referir-me à obra de Zygmunt Bauman " A Vida Fragmentada - Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna".
No essencial, os tempos que vivemos são fruto da política de desmantelamento das instituições levada a cabo por Thatcher (e por Reagan), uma política que, após a unificação da Alemanha e o desmoronamento da URSS, passou a ser regulada pela finança supranacional. A própria União europeia foi obrigada a trocar o princípio da subsidiariedade pela «cultura de casino cósmico» , em que tudo se calcula em termos de «impacto máximo e obsolescência imediata» (op. cit., pág.269).
Passámos a existir enquanto contribuintes e consumidores. Caso não consigamos manter esse estatuto, deixamos de ser recicláveis e passamos à categoria de dispensáveis, isto é, para os políticos somos "elimináveis", pois só assim as economias poderão ser revitalizadas.
Os "elimináveis" não passam de um produto tóxico, de "imparidades"... acabando como arma de arremesso político entre os gestores do «casino cósmico» e aqueles que, ainda, se consideram representantes de um pensamento de "esquerda". Só que com o desmantelamento do Estado, a "esquerda" deixa de existir, a não ser como entidade fragmentada e nostálgica que nada pode impor.
Em Portugal, nada do que está a acontecer, em 2013, é novidade para Bauman, em 1995.

3.8.13

Albufeira do Cabril

Partida: Parque de Campismo do Pedrógão Grande. 1º alcatrão, depois terra batida, plana. A Ilha expõe-se em forma de casco de embarcação e oferece descanso e a possibilidade de merendar para quem se tenha aviado em terra.
Como não há ilha sem encosta, os mais afoitos podem descer até à linha de água, desde que não esqueçam que vão querer regressar...
Duração: duas horas, a não ser que levem cana de pesca ou queiram mergulhar nas águas da albufeira.
/MCG

2.8.13

Confluir


Juntam-se as águas e seguem o seu curso, alheias a hierarquias de estado ou de qualquer outra espécie e, simultaneamente, as margens iluminam-se, gratas à conformidade que assim as guia.
A cada passo, a natureza dá o exemplo, mas nós preferimos ignorá-lo em nome de uma cultura que insiste em defender uma identidade artificiosa, de uma soberania que já perdemos…
Ouvi há pouco que temos mais um partido: o MAS – Movimento Alternativa Socialista. Um partido para o futuro que quer voltar ao passado: ao escudo, à bancarrota, ao Estado-nação. Mais um grupo de “intelectuais” que não entende o mundo em que vive…