31.7.13

Na Foz do Alge


O título pode não corresponder, pois não é fácil chegar ao parque de campismo da Aldeia Foz de Alge, sobretudo quando o GPS Sony não reconhece as novas vias, e acabamos por enfrentar a íngreme  subida que leva a AREGA. Aqui, não há sinalização, a não ser o simpático indicador humano que lá mandou virar à esquerda e depois à direita, atravessando a floresta de 3 km, e depois já haveria placas… Havia, mas nenhuma que indicasse a estrada para o camping.
Acabei por atravessar a Aldeia da Foz de Alge, com o credo na boca, pois quem desenhou as ruas nunca imaginou que por ali viesse a passar uma autocaravana. Eu próprio ainda estou sem saber como é consegui não derrubar nenhum beiral…
Enfim, cheguei a um parque com uma receção acolhedora, bem situado junto ao Zêzere, com as cigarras em plena cantoria. No entanto, a música de fundo bem alto – um misto etno-pimba – não ajuda quem procura o parque para descansar!
(Tudo seria  ainda mais agradável se a Sony tivesse alguma consideração pelos utilizadores dos seus GPS – caros e sem possibilidade razoável de atualizar o software, e se os Institutos que tutelam as estradas e o turismo se preocupassem em sinalizar devidamente as estradas, os locais de interesse e os respetivos acessos…)

30.7.13

O nosso interesse

O que é que nos interessa?
De forma seca, interessa-nos a comodidade e, sobretudo, que não nos incomodem.
A comodidade assegura-se com património, um bom salário, a sorte grande, um corpo jovem e em forma. Tudo o que se oponha é já um incómodo!
A crise é um incómodo, mas que só incomoda, por enquanto, uma minoria. Enquanto houver sol e praia, subsídio, mesada, cartão de crédito, saúde, a maioria segue incólume.
Pode-se até pensar que a cobertura de viaduto, um banco de jardim, uma cela são abrigo suficiente para que não nos incomodemos...
Claro que continua a haver aqueles que, incomodados, partem! Tal como no passado, sempre houve homens e mulheres que rejeitaram o fado e reconstruiram as suas vidas noutras latitudes...
Por cá continuam as moções de censura e de confiança, sem que seja possível romper com o comodismo das nossas posições.

29.7.13

Carris desrespeita os utentes do 783

O utente chega à paragem, olha o painel informativo e percebe que daí 14 minutos tem um autocarro para a Portela, no caso, o 783. Poderia, entretanto, ter aproveitado o 783 para o Prior Velho, mas com o inconveniente de ficar apeado antes de chegar ao destino.
Decidira esperar. O tempo escorre até que, subitamente, passam a faltar 34 minutos. Porquê? Ninguém sabe! O painel informativo nada explica.
Pacientemente, o utente da Portela rende-se à espera de novo 783 para o Prior Velho, mesmo ficando apeado...
Surpreendentemente, às 12h38, na Praça do Saldanha, o 783 passa vazio...RESERVADO... e o utente continua à espera sem qualquer explicação...
 

28.7.13

Ser / estar na notícia sem mestre de cerimónia

- O que fazem três milhões de indivíduos na praia de Copacabana?
Os crentes dizem que estão lá para estar próximo do Papa Francisco. A verdade parece, no entanto, ser outra: estão lá para estar na notícia, para fazer parte da notícia. Ainda assim, há muitos, crentes ou não, que se deslocaram para "ser notícia". E, para o efeito, vale tudo: banho na onda alterosa, protesto contra o governador, revolta contra a hipocrisia da Igreja Católica...
O próprio Papa franciscano (?) procura, sob o olhar das câmaras fugazes, não ser ocultado pelo movimento das ondas humanas.
Uma das lições que, provavelmente, este Papa poderá extrair do evento é que não lhe basta ser notícia para existir, pois a sua ação poderá reacender não só a fé, mas, sobretudo, antigos demónios que durante séculos devastaram a terra em nome de uma Ideia que se queria única e verdadeira.
Paradoxalmente, perto de Santiago de Compostela, um pequeno burgo abandonou tudo o que estava a fazer para socorrer as vítimas de um infausto acidente ferroviário, sem quererem ser /estar na notícia... Esses, sim, existem!
Existem sem encenações nem mestres de cerimónia! 

27.7.13

«Sou noticiado, logo existo»!

Sou noticiado, logo existo. (...) Disparo, logo existo. Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada
O homem já não necessita de cogitar, já não necessita de procurar o deserto para se afastar  da turba ameaçadora. Pelo contrário, agora, procura o ruído da multidão, procura um palco onde possa ser visto e ouvido, busca sensações narcísicas e, para atingir tal objetivo, tudo lhe é permitido.
Este homem não se preocupa com as consequências da imoralidade da sua ação. Uma ação naturalmente violenta, uma ação cada vez mais violenta. Face à efemeridade das reações do Outro, os estímulos crescem de intensidade e de frequência até a um ponto de não retorno. O Outro ou foi abatido ou colocou-se no lugar do sujeito, emulando-o até cair na não-existência...
E é essa não-existência que alimenta a violência «faça-você-mesmo.» A guerra deixou de ser um ajuste de contas, uma luta corpo-a-corpo. Este tipo de violência da notícia, do paparazzi, da rede social mais não é do que uma execução, em que nos apresentamos como carrascos...
(Quanto às vítimas, elas não passam de inexistências, mesmo que ainda guardem a vontade de pensar!)
O problema surge quando se pergunta qual é o futuro destes «carrascos», pois, hoje, sabemos que, para se manterem vivos, eles necessitam do reforço da força do choque, o que significa que de nada serve ficarmos à espera de mudança: ou morrem e são substituídos ou, simplesmente, continuam a infernizar-nos a vida... Por outras palavras, de nada serve esperar que o menino traquinas subitamente abdique de o ser...
Quem espera outro Paulo Portas, não percebe que para ele só importa: «Sou noticiado, logo existo»!   






26.7.13

Um país de malfeitores

"Malfeitoria" é a única palavra capaz de exprimir o meu sentimento em relação aos efeitos do desgoverno em que vivemos. Em termos simplistas, se há malfeitoria é porque há "malfeitores", e, em regra, ficamos satisfeitos sempre que um deles é identificado, mesmo que não seja responsabilizado. Por vezes, chegamos a ter inveja desses "novos heróis"...
Esta abordagem oculta, no entanto, uma realidade mais sinistra: a "malfeitoria" pressupõe um atentado contra a "feitoria", em que o "feitor" lesa a propriedade pública...
Em Portugal, os feitores apropriam-se dos bens públicos, organizando-se para, o efeito, em redes de banqueiros, de procuradores, de juízes, de funcionários, de autarcas, de construtores civis, médicos, farmacêuticos...
Quando olhamos para o governo, para os partidos, para os sindicatos, para as associações, para as corporações, vemos que a sua constituição reflete as tribos transversais que se vão constituindo na sociedade portuguesa... 
Por exemplo, esperar-se que o governo fosse um órgão solidário com o objetivo de servir o país, mas a sua constituição reflete a existência de vários tribos ao serviço de interesses divergentes...
 

25.7.13

Em letra branca

Sob um tempo abafado e certo desapontamento, há quem só pense em férias, indiferente ao que, entretanto, vai acontecendo.
Há dias, um ex-ministro socialista pedia ao governo que acalmasse e nos deixasse ir de férias. Achei o pedido estranho porque estava convencido de que aquele ilustre sociólogo estivesse de férias desde 2011 e, por outro lado, custou-me ouvi-lo falar de ir a banhos como se essa possibilidade não tivesse sido coartada a muitas centenas de milhares de portugueses.
Este tempo húmido talvez justifique a morosidade e a perversão das decisões, mas só sinto desapontamento ao observar a ação política: o ministro crato continua a sua cruzada contra os professores; o primeiro-ministro escolhe para o seu governo homens e mulheres comprometidos com decisões prejudiciais ao interesse público; o vice-primeiro, em vez de se ocupar da reforma do estado, refunda-se a si próprio...
Hoje, ao passar quase duas horas na PT, no Parque das Nações,  à espera que me resolvessem um pequeno problema, tive oportunidade de tomar conhecimento de um expediente que nunca me passara pela cabeça. Lá para os lados da Amadora, há mais de 10 anos, alguém imaginou uma (?) declaração, em que dois proprietários prometiam ceder um terço dos lucros de investimentos urbanísticos a um beneficiário cujo nome não constava no documento, ou, afinal, constava de forma "encriptada": O nome da pessoa que, não sendo sócia da empresa, iria alegadamente ter direito a 33% dos lucros está lá invisível, isto é, os caracteres do nome tinham sido escritos em letra branca, razão pela qual eram indecifráveis na folha da mesma cor. Foi preciso alterar a cor de letra do ficheiro para descobrir que afinal havia um visado naquele documento... (fonte: jornal i, 25 julho 2013)
No próximo ano letivo, irei estar mais atento às folhas em branco não vá algum raposão mudar a cor à letra...