Por vezes, em dia de balanço, acordamos cáusticos, com vontade de zancar nos fornecedores de serviços que nos prometem mundos e fundos para depois nos cobrarem o que, ingenuamente, acreditámos não dever. No caso, a Portugal Telecom que me prometeu uma migração simples (e livre de encargos) do sapo adsl para o sapo fibra, e que me fez perder paciência e horas, senão dias, de reclamações para que o serviço ficasse a funcionar em condições. Foi mesmo necessário solicitar o livro de reclamações para que a situação fosse encarada com alguma seriedade. Foram 8 dias sem telefone e 5 sem acesso à internet. E 100 euros pelo equipamento e instalação! E porquê?
Porque a PT é como um grupo de actores sem encenador. Cada um interpreta o texto de acordo com o seu estado de alma, estando-se nas tintas para o autor e, sobretudo, sem se preocupar em ‘dar a deixa’ àqueles com quem deveria contracenar. Actores esses que, no caso da PT, como, por exempo, está a acontecer com a elaboração do OGE, representam em palcos simultâneos, mas distantes. Falta-lhes o encenador. O maestro.
Por isso a primeira causa da decadência é organizacional. A segunda é a inveja.
E é esta segunda causa que me leva à crónica de TV do DN “J de Judite, J de Justiça”, assinada por Nuno Azinheira, em tempos meu aluno. Gosto da clareza com que escreve e, sobretudo, da justeza do pensamento: «Reconhecer que há alguém mais competente, mais produtivo e melhor do que nós é uma coisa que nos incomoda. Está-nos sangue. E é por isso que continuamos assim. Tristes e amargurados. E incompetentes.»
O Nuno já não se lembrará, mas no tempo em que nos cruzámos, o professor de Português começava inevitavelmente a abordagem de OS LUSÍADAS pelo comentário do Prefácio de Garcia de Resende, inserto no Cancioneiro Geral. E lá estava a marca do «sangue» que impedia os portugueses de escreverem , na hora certa, a epopeia merecida: «Todos estes feitos e outros muitos doutras sustâncias nam sam devulgados como foram, se gente doutra naçam os fizera. E causa isto serem tam confiados de si, que não querem confessar que nenhuns feitos são maiores que os que cada um faz e faria, se nisso o metessem.»
Hoje, apesar da desorganização e da inveja, ainda vislumbro nas palavras do Nuno Azinheira um sinal de esperança.