10.5.10

Em ruínas…

  Na esquina da Casal Ribeiro com a Almirante Barroso (Lisboa). Sempre que ali passo respeito o sinal e paro a olhar o que sobra do Império… da tal Fantasia Lusitana. E lembro que ali residiu quem, entre muitos outros, sonhou um mundo menos injusto – Amílcar Cabral que chegara a Lisboa em 1945 para prosseguir os estudos no Instituto Superior de Agronomia.

Em Outubro de 1944, a Casa dos Estudantes do Império-sede começara a funcionar, sob a presidência de Alberto Marques Mano de Mesquita, no n.º1 da Rua da Praia da Vitória, ao Arco do Cego. Mas, no mês seguinte, mudara-se para o n.º 23 da Avenida Duque de Ávila, onde vai permanecer até à sua extinção. Por essa altura, abre também uma delegação em Coimbra. Amílcar Cabral foi um dos dinamizadores desta importante instituição à revelia do salazarismo, e na euforia do pós-guerra.

A memória multicultural de S. Jorge de Arroios, aos poucos, fenece.

9.5.10

Fantasia lusitana, de João Canijo…

http://aeiou.expresso.pt/fantasia-lusitana-o-paraiso-de-salazar=f578926

Portugal é pintado como um paraíso de paz e harmonia, numa altura em que boa parte da Europa agonizava com a II Guerra Mundial e se tornava ponto de passagem ou de refúgio para milhares de pessoas, entre os quais escritores célebres como Alfred Döblin, Antoine de Saint-Exupéry ou a actriz Erika Mann, filha de Thomas Mann. Os depoimentos, em que relatam as suas impressões do contacto com o país, são lidos pelos actores Hanna Schygulla, Rudiger Vogler e Christian Patey.
(Se quis ver o documentário tive que me deslocar ao Campo Pequeno e entrar nos curros abundantemente decorados com imagens e artefactos cinematográficos de mau gosto, para além dos tectos baixos impregnados do cheiro a pipocas e do martelar de teclados e bombos ensurdecedores.)
No meio do conflito mundial, a excentricidade do Mundo Português surpreende os refugiados e arrasta o povo miserável, eternamente grato a um redentor (Oliveira Salazar) sob o abraço universal do Cristo Rei, para uma guerra colonial anunciada.
Insistir que Salazar nos livrou da guerra é uma aberração, pois todos sabemos que a “nossa guerra” se aproximava por nos termos conluiado, primeiro com os franquistas e depois com a Alemanha nazi. Em tempo de guerra, os exércitos precisam de rectaguarda e o Portugal de Oliveira Salazar estava à mão… A estratégia de Salazar esteve em saber aproveitar as necessidades alheias, adiando o sacrifício do seu povo…
Sim. Gostei de ver  “Fantasia Lusitana”. Mas não gostei do ar fascinado dos espectadores que sorriram do acasalamento das cebolas com as batatas e, sobretudo, que não sentiram vontade de cuspir para o chão!  

8.5.10

Finalmente, há teatro…

António Pedro, 1909-1966 by Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian.

António Pedro (1909-1966) é o autor da Antígona, ontem, levada à cena, no Auditório “Camões”,  pela novíssima companhia Grupo de Teatro da Escola Secundária de Camões . Trata-se da Glosa Nova da Tragédia de Sófocles. Em 3 actos e 1 Prólogo incluído no 1º Acto. António Pedro, num artigo do Mundo Literário, escreveu um dia: Teatro é tragédia e farsa; o drama burguês, melífluo, a comédia burguesa, comedida, são apenas acidentes acontecidos na sua história milenária.»

A escolha do texto – acto fundador – revelou-se acertada. Apesar de tardíssimo, Creonte vergou-se perante a inexorabilidade do Destino. Tirésias, o adivinho, restaura mais uma vez a ordem em Tebas. Que sobriedade a da actriz (Rita G. Júlio)! E que dizer de Antígona pronta a morrer às mãos do tirano em defesa de uma antiquíssima tradição – dar sepultura aos mortos? OS VELHOS, numa elocução cristalina, tomaram partido como convinha… Pela 1ª vez, ouvi e vi um coro tão afinado que pensei encontrar-me numa ágora da antiga Hélade.

Esta nova companhia está de parabéns. Os sinais de uma escola integradora, participativa e de qualidade estão todos presentes neste espectáculo. E por isso quer felicitar todos os que denodadamente contribuíram para que, finalmente, haja teatro no Camões – alunos, funcionários e professores. Assim, sim!

7.5.10

Às 6h50...

Às 6h50,  a rede social está adormecida. De nada serve explicar que o tempo de aprendizagem da escrita se dá quase sempre em lugares inesperados. Não foi na Escola, no caso, no Liceu, que António Lobo Antunes aprendeu a escrever - foi na guerra (de Angola) - "DESTE VIVER AQUI NESTE PAPEL DESCRIPTO". Em aerogramas. 60 por mês.

6.5.10

Instantes…

 Por instantes o verde primaveril quase que esconde «o poder do oiro». Em nome de anónimos predadores (CORVOS), os executivos, tranquilos, repousam ou decidem novas aquisições. Das vítimas (MORCEGOS) nem ruído… arrastam-se, todavia, escada acima, ensimesmadas, dominadas pelo desespero dos condenados. Incapazes de superar a dor pessoal, esperam que a sorte lhes sorria, de modo a que busca atormentada do sentido da existência não lhes roce a consciência…
Afinal, enriquecer é para os predadores! Por enquanto as vítimas esperam o tempo do salto que lhes permita entrar no santuário do cifrão… Porquanto nem a Igreja da Santíssima Trindade nem o Abismo as movem.

4.5.10

O encanto dos nossos governantes…

« O Português, sendo embora um trabalhador incansável, possui um espírito empírico, não gostando nem de organização nem de disciplina. (…) Aliás, o encanto dos Portugueses reside nos seus próprios defeitos. Em 1966, mais de 70000 automóveis circulavam nas estradas de Angola, sem mencionarmos motos, veículos indispensáveis em África. Se nos arriscamos a partir a cabeça a todo o instante, na estrada que liga Catete a Luanda, devido à sua estreiteza e tráfego intenso, encontramos, pelo contrário, no sul de Angola, entre Moçâmedes e Porto Alexandre, mais de 100 quilómetros de estradas asfaltadas, dignas de uma pista de corridas. Um único  carro passará talvez, de hora a hora, nessa estrada, mas as autoridades quiseram, não sei por que razão, construir tal artéria em detrimento de outras, cem vezes mais importantes.» Mugur Wallu, Angola – Chave de África, pág. 136, 1968, Parceria A.M. Pereira, Lda, Lisboa.
Os nossos governantes insistem, como as autoridades coloniais, em construir vias e pontes fantasmáticas, em  esbanjar recursos em reconstruções plásticas de edifícios escolares, em detrimento da reordenação do território de modo a potenciar a capacidade trabalhadora e produtiva das populações.
Bipolares, saltamos da megalomania  para o imobilismo, sofismando permanentemente. O sofisma tornou-se numa arma capciosa, incapaz de iludir o mais incauto…
O encanto dos nossos governantes é tão antigo como o país que nunca soubemos administrar. É visceral. ESTRUTURAL. 

2.5.10

Nortada…

De nada serve querer desvalorizar o adversário, muito menos tratá-lo como inimigo. Quando o jogo é limpo, a verdade vem sempre ao de cima. Infelizmente, a face imunda do egoísmo e da cobiça continua a ter as primeiras páginas, sem que ninguém lhe ponha cobro… Inebriados de fanatismo, pouco produziremos neste mês de Maio. E isso pouco nos importa! Com PEC ou sem PEC, com mais ou menos Papa e mesmo que o Benfica perca o campeonato, o que interessa é que a nortada serene.