13.12.09

O anátema do comboio

Já foi assim na segunda metade do século XIX. O povo, que dera novos mundos ao mundo, via na locomotiva uma máquina infernal capaz de destruir as colheitas e os povoados.

Entretanto, com a circulação do monstro, uma nova geração descobre Paris e sonha ligar Portugal à Europa. É esse o sonho que surge como objectivo primeiro dos conferencistas do casino, em 1871.

No entanto, o país não deixa de ser provinciano. O seu escol bem procura o estrangeiro, mas volta sempre, quando volta, com o sentimento de que há algo de irremediável na atitude portuguesa.

Em meados do século  XX, o comboio volta a ter um papel fundamental no êxodo dos emigrantes. Viajar de comboio torna-se numa penosa e promíscua odisseia. O sonho do regresso passa a fazer-se anualmente em velozes e mortíferos carros, tudo para evitar o maldito comboio.

Hoje, continuamos a suspeitar do comboio. Parece que tememos que ele nos leve de vez para essa Europa tão desejada pelos homens da geração de 70. Preferimos o isolamento, mesmo sabendo que já ninguém quer saber da epopeia de quinhentos.

E é pena, mesmo que viajar seja perder países!  

10.12.09

A via…

Há sempre quem nos queira convencer (Kant?) que o pensamento dogmático é o pensamento ingénuo, o pensamento sem suspeita e, portanto, sem vigilância.

Levianos seremos nós se nos deixarmos levar por tal ideia. Embora os seguidores pensem pouco ou nada, a verdade é que quando o fazem, é sempre no seu interesse, indiferentes aos estragos.

A estrada é lhes aberta por um estratega que preza os bastidores…, apenas uma folha que cai no caminho…

( Da tradução à traição, vai apenas um pequeno desvio… Não vale de nada olhar para o étimo, nem para a via!)

8.12.09

O Belo é a expressão sensível da Ideia (Hegel)

Não há nenhuma incompatibilidade entre a educação da sensibilidade (valores estéticos) e da racionalidade (valores lógicos).

A escola, ao definir as linhas orientadoras do projecto educativo, não pode esquecer que a sua oferta formativa deve ser equilibrada. Se queremos contribuir para que a sociedade seja mais solidária, não podemos ceder à pressão da “procura”.

O critério de decisão não pode ser o curto prazo. Quem dirige tem de saber projectar o futuro. E, ao contrário do que comummente se diz, o decisor não é obrigado a reger-se por critérios economicistas e de prestígio social. Basta que tenha presente a lição do passado.

Uma boa parte da decadência portuguesa tem origem no modelo de escola que separa os valores estéticos dos valores lógicos, sem qualquer proveito.

7.12.09

Notas soltas…

A filosofia está matricialmente comprometida com a razão social, sem descurar o desejo, o amor, a vontade de sabedoria (sofia) e de sageza.

A modernidade encena a emancipação da filosofia relativamente à teologia. O ateísmo é o limite desse caminho. E o percurso é extremamente doloroso na 2ª metade do século XIX (os poetas desesperavam pelo nirvana libertador…). No século XX, esse percurso tornou-se cínico. Veja-se a obra de José Saramago.

Hoje, Epicuro regressou com a experiência interior transmitida por gurus momentâneos e hedonistas.

Entretanto, o sábio é aquele que é o outro pelo seu saber /fazer – a alteridade liberta do particular…

5.12.09

Quebre o espelho!

Nora Ephron, na obra Não Gosto do meu Pescoço e outros Humores, Achaques e Amores da Vida das Mulheres , é contundente na abordagem do envelhecimento: “Os nossos rostos são uma mentira e o pescoço é a verdade. Desistam de querer enganar ou então escondam o pescoço. Desviem-se de espelhos, usem gola alta e lamentem-se de não terem passado mais horas a contemplar o pescoço antes da hecatombe."

Uma ideia que dá que pensar sobre o tempo que homens e mulheres gastam frente ao espelho. Provavelmente, somos dominados pela vaidade. Nora Ephron não terá lido José Rodrigues Miguéis que, em tempos, escreveu uma bela ‘estória’ intitulada A Importância da Risca do Cabelo.

Eu também não li Nora Ephron, tendo, no entanto, visto hoje o filme por si realizado, Julie & Julia (2009). Duas mulheres ( ou serão três?), em tempos distintos, preenchem o tempo, a escrever e a executar receitas de cozinha francesa, com o objectivo de ensinar os americanos a cozinhar… A testagem das receitas é fonte inesgotável de situações cómicas bem representadas /caricaturadas por Merly Streep e por Amy Adams, com a particularidade desta última dar corpo a um blog, onde durante 365 dias regista o (in)sucesso da sua emulação e da relação com o trabalho e com o marido.

Em conclusão, se lhe sobrar algum tempo ou se o não tiver quebre o espelho e vá ao cinema ver Julie & Julia, e verá que não perderá o seu tempo.

3.12.09

Chicos-espertos…

Em nome da democracia, uns procuram afanosamente escutar e aceder às conversas das figuras mais ou menos publicas, outros (os mesmos?) escondem religiosamente as fontes, de forma a impressionar o saloio. Infelizmente, há cada vez mais parasitas entre nós!

1.12.09

À solta…

Há sempre quem queira mandar, mesmo que seja para cumprir, ou não, uma elementar regra de jogo!

Há sempre quem fale em nome do conhecimento científico, sem sequer perceber o que é o conhecimento e, sobretudo, sem entender a precariedade do ‘científico’!

Quantas aves de rapina se apropriam do trabalho alheio sem sequer pedir licença?

Há sempre quem só consiga dizer mal, mesmo sem revelar original competência!

(Criar, pensar, fazer…)

Ajudar a fazer, a pensar, a criar.

(E ainda há quem diga que o teatro português está em crise! Na tenda ou no palácio, o mundo está a nossos pés.)

Contra a fraude!