28.2.09

No silêncio da oliveira... Vital Moreira

Ao Vital Moreira reconheço competência e honestidade intelectual, e espero que a sua escolha para encabeçar as eleições europeias tenha como objectivo reforçar a qualidade da intervenção portuguesa na união europeia e no mundo. Quanto ao argumento da sua abrangência política de esquerda, considero-o falacioso. Em relação ao congresso do partido socialista, não posso deixar de registar a falta de debate de ideias, a sacralização da liderança de Sócrates, a ausência de Manuel Alegre, e a pobreza intelectual de muitos dos participantes - houve quem confundisse um sinónimo com um silogismo! Por seu lado, as televisões primam pela falta de isenção. Os comentadores há muito que servem interesses económicos e aventureiros que se vão apoderando das nossas consciências.

25.2.09

Ali, ao lado...

O outro lado da cidade de Évora: esgoto a céu aberto, ao lado do parque de campismo; poço com banheira; azinheira com sombra de cimento. Nem a pega rabuda escapa. Fora da fotografia: duas carroças ciganas, repletas de crianças avançam no descampado, à procura de um lugar onde acampar.
Minutos mais tarde, os machos, soltos, enganam a fome junto do arame farpado da herdade vizinha; as crianças atravessam a 380, na direcção do povoado; as carroças jazem junto do poço...
Começo a pensar que, afinal, a sombra de cimento da azinheira vai ser muito útil na noite que se avizinha. Isto se não aparecer por ali nenhum sapo de loiça!

24.2.09

De novo, em Évora...

De registar, em relação à última visita, a conservação de alguns dos principais monumentos. Já não há ossos à vista de quem passa! No entanto, o Museu, junto à Sé continua entaipado e a Universidade fechada. Bem sei que é dia de Carnaval, mas o espaço ocupado pela instituição de ensino superior merece o olhar do turista, mesmo que acidental... Quanto a transportes públicos, nem vê-los!

22.2.09

Uma ideia matinal

O dia vai adiantado, não quero, todavia, terminá-lo sem registar uma ideia matinal: quem ensina a ler autores do século XVI não deveria comentá-los sem previamente ler VIDA NOVA, de DANTE ALIGHIERI. E já agora acrescento: A Metafísica Aristotélica.

Se esssa atitude vingasse, evitaríamos leituras biografistas e psicologizantes abusivas tão do agrado dos nossos literatos de moda.

21.2.09

Aquelas pessoas

«O casamento prevê direitos e deveres entre cônjuges, a união de facto não parte do pressuposto de que há um conjunto de deveres entre aquelas pessoas.»  Maria do Rosário Carneiro, DN 21.02.2009

Para além da eventual lacuna da lei apontada pela deputada, há no enunciado um deíctico espacial que me deixa perplexo: “aquelas pessoas”. A deputada, de uma assentada, delimita dois territórios: o seu (dos seus) e um outro, colocado à distância, o de outras pessoas. O primeiro é o espaço da doutrina cristã, redentora; o outro é o espaço da infidelidade ou da heresia.

No essencial, a deputada, expressão de um sistema de valores eleito, tem dificuldade em interpretar os princípios que deveriam reger o socialismo democrático: liberdade, igualdade e fraternidade.

Nesta matéria, a diferença de paradigma tem origem no preconceito.

19.2.09

A maldade e a ironia

Ao contrário da ironia, e que eu saiba, ainda ninguém definiu a maldade como uma figura de estilo. Da ironia, diz-se que ela exige conhecimento do contexto conversacional (discursivo) e cria cumplicidade, apesar de nem sempre demonstrar apego à acção ou, se quisermos, capacidade de meter as mãos no lodo…

Da maldade, a retórica pouco ou nada nos diz… o que não me impede de acordar a pensar naqueles que malham publicamente no ministro e em privado lhe lambem sorrateiramente as feridas…

15.2.09

Em 1993…

O Pecado de Sofia, de Fonseca Lobo, prende o leitor. Parece a versão feminina do Frei Luís de Sousa, sem o peso do sebastianismo. De certo modo, Almeida Garrett poderia ter baptizado o drama de O Pecado de Madalena, se não fosse a sua obsessão em libertar Portugal do jugo estrangeiro.

Fonseca Lobo recorre ao medo, à superstição, à maldição, aos dias fatídicos, ao mistério e à vítima angélica (Marília), preferindo, no entanto, o suicídio de Sofia à redenção… Quanto a Deus, este deixou de ser chamado e… o drama progressivamente encontra um desfecho simpático: a mãe que amaldiçoara as filhas, nascidas de um ventre que só gerara fêmeas, enlouquece; a filha, Sofia, que se deixara mover por um impulso amoroso e fatídico, suicida-se. Tudo em dois actos e um poço…

Em 1993, nada acontecia em Portugal. A crise não passava de uma questão de família!