31.5.18

Limpeza no Santuário em dia de Corpo de Deus

 A Solenidade Litúrgica do Corpo e Sangue de Cristo, conhecida popularmente como "Corpo de Deus", começou a ser celebrada há mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade de Liège, na atual Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa Urbano IV através da bula "Transiturus", em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios. 


Não participei na Solenidade Litúrgica, o que, espero, não agrave a minha situação aos olhos do Divino, pois guardei o dia para limpar, em fim de prazo, terrenos, certamente, abençoados, pois num deles encontrei uma placa, em que se destaca o termo SANTUÁRIO...
Ninguém me pediu autorização para a lá colocar, mas, segundo me dizem os entendidos, doravante posso caçar naquele bendito terreno...

30.5.18

Antissocial?

Preocupa-me que os Estados andem preocupados com o nascimento e a morte dos cidadãos. E depois há todos aqueles - grupos, associações, amigos - que, sempre que o Estado se agita, decidem tomar partido, esgrimindo dogmas a favor ou contra, embora se confessem defensores das liberdades individuais (no plural), sem esquecer todos os titulares de cátedra religiosa e laica...
Tanta agitação para quê? E ainda dizem que uns ganham e outros perdem e deitam foguetes e ameaçam voltar à carga - versão bélica do humano.
Desconfio que me estou a tornar antissocial. Ou será sintoma de anarquismo?

29.5.18

EU + THANATOS = Morte sem dor

«Il n'y a qu'un problème philosophique vraiment sérieux: c'est le suicide. Juger que la vie vaut ou ne vaut pas la peine d'être vécue, c'est répondre à la question fondamentale de la philosophie.» Albert Camus, L'absurde et le suicide.

Se eu bem entendo a essência da questão, o que está em causa é o SENTIDO DA VIDA... e só o próprio vivente é que deveria decidir o que fazer da sua vida. Não os parlamentos, onde os filósofos são raros... e provavelmente sábios para se absterem... 
Por mim, a dor individual não é matéria que possa ser legislada, tal como o prazer... 

Vamos lá regatear!

Aluno: - Quando é que faz a autoavaliação?
Surpreendido, o professor replica: - Quando é que apresenta oralmente a obra selecionada no âmbito do projeto de leitura? - E trabalho escrito, apresentou algum durante o ano?
Resposta do aluno: - O que é que isso tem a ver com a autoavaliação?

Este professor ainda é daqueles que pensa que lhe compete criar as condições para que cada aluno possa expor o modo como terá cumprido os critérios de avaliação, mas isso, afinal, não tem qualquer significado...

Sob uma amoreira, acabo de ver um papá babado com o filhote ao colo, incitando-o: - «Meu lindo menino, já deve chegar, mas é como tu quiseres, faz o que te apetecer!»

Ele nem precisa de regatear!

28.5.18

Podem os sindicatos de professores ser felizes?

A notícia da greve às avaliações no final do ano parecia refletir ameaças recentes, aceitáveis por muitas razões... só que o detalhe envenena: estas só terão início a 18 de junho, deixando de fora as avaliações do 9º, 11º e 12º anos. Consequentemente, os exames não serão postos em causa...
A meu ver, estas manobras sindicais só prejudicam os professores, contribuindo para o descrédito social da classe.

27.5.18

Com três sílabas...

A 'árvore' tem três sílabas tal como a 'palavra' - o 'homem' só tem duas, o mesmo acontecendo à 'mulher', a não ser que se chame Maria...
A 'árvore' não engana. Tem raízes, tronco e ramagem. Já quanto à 'palavra', nem sempre exprime lisura, embora, por vezes, seja expressão de secura...
Até o 'espírito' é constituído por três sílabas, apesar de andar longe da santidade. Basta recordar que, certo dia, "visitou" (forma eufemística para os dias de hoje) Maria, deixando-a grávida sem ela ter conhecido homem...
Serve a presente nota para mostrar a minha preferência pelas 'árvores'. De todas as criaturas, só elas me inspiram, porque, para além das estações, elevam-se aos céus sem terem necessidade de ludibriar - sem necessidade de que o espírito desça sobre elas...

26.5.18

O chinelo

Cai pela ribanceira abaixo. Joelho esfolado, mãos arranhadas. Tem vontade de chorar. Mas para quê?
Sacode a poeira, disfarça o rasgão e volta a subir a encosta, como se nunca tivesse saído do trilho...
Sabe de antemão que terá de prestar contas, experimentar, na melhor das decisões, o chinelo... De sola, o chinelo, que melhor seria que fosse de pano ou até de cortiça - modernices!
Fiquemo-nos pelo chinelo, bendito! As alternativas já experimentadas eram muito mais dolorosas, hoje, dir-se-ia, gravosas, pois habituámo-nos a formular juízos de valor condenatórios porque queremos estar de bem com a opinião, pondo de lado a consciência...
Depois de tanta queda e da eliminação do chinelo, mesmo se de pano, vejo-me sem saber se ainda há consciência, se ela era uma imposição cultural ou uma exigência pessoal...
O que eu sei é que só posso usar o chinelo no pé, em casa, na praia... até posso de ir de chinelo para a escola que já ninguém reclama...

25.5.18

Na ilha da Madeira

«Uma flexibilidade de 25% na forma como as escolas trabalham os currículos, fusão e permuta entre várias disciplinas, são algumas das ferramentas que as escolas vão poder beneficiar por via de um decreto de lei.» Tiago Brandão Rodrigues na ilha da Madeira

Com uma autonomia reduzida a 25% - para onde é que vão os restantes 75%? -, os professores, em nome do supremo interesse dos discentes, vão sentar-se a discutir graciosamente os pontos em que os curricula se interpenetram ou, até, os pontos em que a inteligibilidade de uns depende da aquisição dos outros... Será que estão preparados para tal tarefa?
Em reuniões breves e clarividentes, serão construídos 'transprojetos' - que a pluri - e a interdisciplinaridade já tiveram melhores dias! - a executar no próximo ano letivo... se a opção não for a da corrosão disciplinar (fusão)... tudo apadrinhado pelas novas tecnologias de bolso que, entre outras soluções fabulosas, vão finalmente libertar os docentes da agrura de corrigir e classificar testes e exames...  Se se optar pela corrosão disciplinar (fusão) é mesmo possível acabar com o conceito de "ano letivo"...
Pessoalmente, acho que o ministério de educação só falha nos 75% que vai querer controlar, porque se decretasse a autonomia a 100% até poderia encerrar as escolas, despedir os professores...
Desta vez, não vou querer cair para o lado da autonomia... não sei se estão a acompanhar...

24.5.18

Que loucura é esta?

Hoje é o último dia!

Será este o nosso último email?

Que loucura é esta?
Todos querem os meus dados, todos querem que eu os confirme. Se o não fizer, amanhã deixarei de contar... deixarei de ser ... 
Vamos ver se, finalmente, me deixam em paz!
                                          Viva o Regulamento Geral de Proteção de Dados!

23.5.18

Júlio Pomar, os olhos

Em 4 de maio de 2014... «Por trás dos olhos cegos», creio que o verso é de Fernando Pessoa, revela-se no nº 7 da Rua do Vale um atelier museu pensado e desenhado pelo Arquiteto Álvaro Siza Vieira…» (Caruma)

(A verdade é que o verso é de Fernando Pessoa, por ele atribuído a Ricardo Reis.)

E hoje lá fui até ao Alto dos Moinhos e pude ver os desenhos do mestre... Por um dia, apesar de falhado o objetivo da deslocação, valeu a pena ter apanhado o metro.


Júlio Pomar na minha memória caótica surge-me nas palavras de Rui Mário Gonçalves, nas mãos de Mário Soares, nas confidências de José Cardoso Pires e antecipadamente nos versos de Pessoa...

           VIAJAR! PERDER PAÍSES! (...) DE VIVER DE VER SOMENTE!


Por lapso, ontem, não referi o Eduardo Lourenço, sempre às voltas com o passado e o futuro  da nação.  E já, agora, o José Augusto-França, homem que deu assinalável contributo à divulgação das artes plásticas...














22.5.18

Ainda a trabalhar!

Por aqui, o que há mais são afloramentos do que já foi, do que ainda não é nem se sabe se virá a ser, não esquecendo que o que é está pronto a deixar de o ser... dizer que se trata do tempo é vago, genérico, banal... é pensar que se está instalado, bem ou mal, sem saber que o fio pode estar a ser cortado...
Por isso, hoje, vou amputar O Velho de Rui Knopfli:

Não envelheço. Torno-me antigo.
O velho sempre viveu em mim,
sempre o pressenti no olhar
magoado demorando-se nas coisas,
em certa lentidão não premeditada
dos gestos e nas lembranças confusas
de uma outra recuada idade.

O acaso (outra figura do tempo por explicar) quis que, antes de aqui chegar, tivesse dois breves encontros com presenças de outros tempos (uma mais e outra menos idosa do que eu); em comum, a exclamação: - ainda a trabalhar!
O Rui Knopfli que me perdoe, ele, que nunca me encontrou, sabe dar razão à minha temporalidade...

21.5.18

Relances

«... relances há/ em que creio, ou se me afigura, / ter tido, alguma vez, passado // com biografia...»                      Rui Knopfli, Memória consentida, in nada tem já encanto, Tinta da China, 2017

não sei se são relances, se fulgurações...
de súbito surgem breves histórias inteiras...
mas tão distantes que por mais convincentes se perdem em vagares indiferentes
- não cresce ali nenhuma imagem e muito menos uma qualquer hipotipose...
- dizem-me que o imaginário caiu em crise 
- não sei se acredite... não temos nada em comum a não ser o animal acossado

bem replica o Poeta: « cada homem é uma ilha / cega na mais densa cerração.»
... apesar do outro Poeta: «cada homem é uma raça»...

20.5.18

No mundo imundo

(Poucos revelam reconhecer o mérito do adversário...
Poucos sabem respeitar o vencido...)

Vencer é hoje um objetivo maquiavélico.

Até o Poeta, quando ameaça retirar-se do mundo imundo, é acusado de sobranceria, como se a nova ordem o obrigasse a viver na lixeira mental e material que vai crescendo nas mais diversas instituições...
Como se a Arte devesse subordinar-se a populismos insanos.

19.5.18

É já maio!


Em círculos, por vezes, tangentes, reúnem-se os professores.
É já maio, o primeiro-ministro investe tudo na prevenção dos incêndios... 
Entre professores, o tratamento desigual agudiza-se.
É já maio, a classe docente continua desclassificada... é um peso insuportável para o OGE!
É já maio, em Alvalade, o "enfant terrible" revela que a educação é intransmissível...

18.5.18

'mínima gente'

«Il n'y a que dans les romans qu'on change d'état ou qu'on devient meilleur.» Albert Camus

A crença no bom senso e na regeneração do indivíduo não passa disso mesmo. Esperar que ele dê atenção às vozes desafiantes é uma ilusão que só serve para nos desresponsabilizar...

Hoje, voltei a adotar um tom solene e ameaçador para condenar aqueles que, entre outros males, dão diariamente prova de desonestidade inteletual e de falta de respeito pelos seus pares, advertindo-os para um futuro / presente de permanente oportunismo e de desrespeito...

Ao cair em mim, recordei o poeta Herberto Helder:

- e eu pedi ao balcão: dê-me um poema,
e o empregado olhou para mim estupefacto:
- isto aqui é o mundo, monsieur, aqui não se servem bebidas alcoólicas...

17.5.18

Não há vândalos sem maioral

O termo 'vandalismo' como sinónimo de ação destruidora foi cunhado no século XVIII, em janeiro de 1794 por Henri Grégoire, bispo constitucional de Blois.
(...) O vandalismo é a ação de destruir ou danificar propriedade alheia de forma intencional com o propósito de causar ruína. Muitas vezes é um ato gratuito, ainda que possa ser encomendado sem que muitos  dos intervenientes estejam conscientes desse facto.

No caso que tem abalado a nação, os rapazes têm sido acusados de atos de terrorismo. As instituições, como tal, confessam-se chocadas,  defraudadas e até 'vexadas', creio, no entanto, que seria mais apropriado designá-los de vândalos, porque, de facto, eles não revelam querer construir o que quer que seja... eles não percebem até que ponto estão a ser manipulados...
Esta destrinça parece-me útil, pois é bem mais fácil pôr termo ao vandalismo do que ao terrorismo, como a História bem ensina, desde que as instituições deixem de andar de mão dada com tais energúmenos, a começar pelos maiorais.

16.5.18

Voltar a ler...

Ainda sem perceber os vândalos que, ontem, resolveram atacar em Alcochete, apesar desta incompreensão não ser absoluta, pois, todos dias, me dou conta de que as sementes de violência estão a germinar nos nossos jardins, termino a leitura de A Conquista da Felicidade (1930), de Bertrand Russell.
Por acaso, tal aconteceu na pastelaria Charrette, na Avenida Almirante Reis, Lisboa, onde, chatice, não presenciei qualquer crime, a não ser uma velha senhora muito educada, que, um pouco alterada, dava conta às amigas de que se sentia feliz ali, pois lá em casa o marido gritava com ela  e os vizinhos insultavam-se aos outros. A senhora era mesmo muito educada, ao perceber que eu movia a cadeira para me levantar, pediu-me de imediato desculpa caso ela estivesse 'a falar muito alto'... Tranquilizei-a, porque não quis destruir-lhe a alegria da narrativa...
(...)
Na obra referida, Bertrand Russell analisa as condições internas que favorecem a conquista da felicidade, propondo estratégias pessoais que poderão libertar o indivíduo da alienação ideológica e religiosa, sem esquecer o narcisismo...
O caminho é necessariamente individual, tendo, no entanto, como interlocutores: o tempo cósmico, a natureza e todo o homem cujo sonho e ação se rejam por valores universais construtivos.
O conhecimento do passado, apesar de imprescindível, só será útil se orientado para a humanidade futura.
Em síntese, o que esta leitura me proporciona, para além de ter ficado deslumbrado com a competência argumentativa do filósofo, é a vontade de voltar ao início de modo a questionar as minhas indisposições, irritações, caprichos, fobias, e principalmente, a origem das minhas certezas...

                     «Soterrado / Por mil certezas de aluvião.» Miguel Torga

15.5.18

Vergonha

Meia centena de adeptos de cara tapada invadem Academia do Sporting em Alcochete
Inacreditável!

Estes adeptos agem a mando de quem? 
Do que é que as autoridades policiais estão à espera?
E o ministério da administração interna, o que é que tem feito?

14.5.18

'À manhã' pelo GTESC

«Esta mulher não sossega. Desde que me cheguei ao pé dela que está com esta conversa dos bocanços. Só quer é bocanços. Não quer outra coisa. É bocanços, bocanços e mais bocanços.» Estragão (Trinta Cabelos) in À manhã, Cal, de José Luís Peixoto

Todas as personagens têm mais de 70 anos, nem parece. Ao vê-las e ouvi-las, é como se o Maio de 68 estivesse a florir no Alentejo...
É certo que Maria Clara teve o cuidado de substituir os 'bocanços" por 'beijocas', mas nem assim a brejeirice do texto foi prejudicada. Afinal, mesmo numa escola como a Secundária de Camões, é necessário ter em atenção o público para quem o espetáculo foi amadurecido...
Um espetáculo notável, com atores muito bem encenados e um excelente domínio do texto e do palco, em que, mais uma vez, Graça Gomes se excedeu... de tal modo que Maio de 68 floresce em todas as estações das nossas vidas.

13.5.18

Para o escol português...



Para o escol português - não sei se o termo ainda se adequa - só há lugar para um Senhor... 
A seu tempo, substitui-se o eucalipto, e à sua volta tudo começa a definhar.
Nós somos assim - ou tudo ou nada!
A escadaria só é imaginável na descida. O topo resulta, em regra, de um milagre - de uma Vontade externa que tudo determina...
Ontem, por exemplo, não se esperava qualquer milagre no Pavilhão Altice - afinal, o Salvador ainda não perdeu o fulgor messiânico; de Fátima, terra de milagres, não há notícia de qualquer aparição; só no Porto, a vitória dos dragões era celebrada como se o Azul tivesse baixado dos céus...
Esta mistura é, no entanto, básica. Até o dr. António Costa, apesar dos seus 96% e da celebrada esperteza, começa a definhar...

12.5.18

A Terra dos Sorrisos

Dizem-me que Portugal foi o primeiro país ocidental a entrar em contacto com a Tailândia, à ordem de Dom Afonso de Albuquerque, em 1511, reinava Rama II em Ayutthaya. 
Não tenho razões para pôr em causa a informação, apesar de desconfiar sempre que me asseguram que Portugal foi ou é o primeiro em alguma coisa...
Curioso, lá estive ontem, no Museu do Oriente, a assistir ao espetáculo Danças Tradicionais da Tailândia pelo grupo Bunditpanasilpa Institute.
Apreciei a I e a II partes, tendo ficado com uma ideia do modo como aqueles povos se divertiam - não sei se ainda se divertem, e isso preocupa-me, porque pouco sei sobre a Tailândia... Percebi, no entanto, que por lá as cadeiras são desnecessárias!
Quanto à III parte - Celebração dos 500 anos do Tratado Luso-Siamês de Amizade, Comércio e Navegação ( Dança da Luz  e Dança de Amizade) - fiquei sem palavra... a bandeira, o folclore evocavam o tempo em que o fantasma 'limitava / todo o futuro a este dia de hoje' (Miguel Torga, Dies Irae).

11.5.18

O espetáculo do mundo

Maio 1968 - evocação no Camões
«O mundo está cheio de coisas trágicas, cómicas, heroicas, bizarras e surpreendentes e quem não for capaz de se interessar pelo espetáculo que ele oferece renuncia a um dos privilégios que a vida lhe pode dar.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade

A tentação é considerar que os dias oferecem trabalhos e não privilégios. No entanto, remar contra o marasmo pode ser um privilégio surpreendente.
Aqui e ali, sob um aluvião de certezas, eleva-se uma dúvida, uma faísca de compreensão. Até a repetição pode deixar no ar um "se"... Talvez, mais tarde, um filho pule da moldura e a mãe lhe acompanhe o voo e ela deixe de se sentir defraudada...
Submissos, pensando que eram insubmissos, guardam silêncio sobre o sentido, já não sabem bem se do mundo, se de si próprios... até porque o dia se vai fazendo noite - a única noite que poderá ser verdadeiramente sua...
E é um privilégio contemplar os rostos desconfiados perante a ideia de que há vida para além do aconchego, do sossego, da rotina... quase despertos, libertos do dia... maternal.

10.5.18

Já espigado

«... as práticas ligadas à Quinta-feira da Ascensão, o dia da Espiga, em que estas se colhem como ato propiciatório do bom desenvolvimento das searas e se realizam percursos processionais, com intervenção do clero, na prática das rezadas, rogações, bênção dos campos.» Joaquim Pais de Brito, in O Voo do Arado, pág. 222.

«Em vários locais do Ribatejo colhem-se habitualmente três espigas de trigo, três malmequeres amarelos e três papoilas, mais um raminho de oliveira em flor, um esgalho de videira com o cacho em formação e um pé de alecrim ou de rosmaninho florido. As espigas querem dizer fartura de pão; os malmequeres, riqueza; as papoilas, amor e vida; a oliveira, azeite e paz; a videira, vinho e alegria; o alecrim ou rosmaninho, saúde e força.» No dia da espiga  

Já espigado, confesso que só colhi três espigas, porque as encontrei no caminho da farmácia... Fi-lo por impulso, mas não fui mais além. Apenas fiquei a pensar na sabedoria (esperteza) de uma Igreja que 40 dias antes impôs a Quaresma e 40 dias depois convida o rebanho a colher flores... ( e não me venham com o argumento estafado de que antes de Cristo viera Moisés, pois a implícita conciliação nunca existiu...), quando o que o povo precisava era de pão.
O que me preocupa verdadeiramente são as causas desta ocultação de culturas anteriores que, supostamente, viveriam longe de Deus, isto é, insistiam em viver com os seus deuses. O que me preocupa é o folclore nacionalista...
De qualquer modo, o povo que nada entende de ortodoxia, sempre soube viver de bem com Deus e com o Diabo...

9.5.18

Não há conto sem acontecimento...



Repito: 'Não há conto sem acontecimento'... Não me apetece voltar a explicar, embora haja quem não perceba porquê e pense que escreve contos, estórias... Ou seja, a melhor desculpa que me dão é que 'escrever já é em si acontecimento'... Indulgente, tolero...
Portanto, sempre que me contam um conto, só desperto quando o acontecimento irrompe... Hoje, o acontecimento surgiu sob a forma de epifania. Surpreendido, perguntei qual era o significado de tal termo. A resposta foi sincera 'não sei'... Ora ali estava um acontecimento - aparição -, apesar da arredia espiritualidade da hora...
... a não ser que a atenção se voltasse para a cavidade de um plátano que vai acolhendo um ninho sem que ninguém dê conta do acontecimento - e ainda bem! Ou para a luz matinal que, sem glória, procurava atravessar as copas frondosas das tílias...

8.5.18

apenas gente

«- mas – ia eu para dizer, mas calei-me de repente –» Herberto Helder, Letra Aberta


Há um ponto a partir do qual deixa de fazer sentido retorquir não tanto porque a gente seja mínima, mas porque é apenas gente.
Ora, se é gente é porque não ouve e o que vê é outra coisa, apenas gente.

7.5.18

Preferimos a 'vidinha'...

Para além do que vemos, que me abstenho de descrever para vos evitar a maçada, há sempre a possibilidade de criar uma história. De imaginar alguém que queira ir mais além, de situar, de preferência, essa enigmática personagem no tempo e no espaço, atribuindo-lhe um sonho, uma ambição, um interesse, uma inutilidade...
Mas como fazê-lo sem memória?
Por estes dias, venho insistindo nesse imenso reservatório de acontecimentos, de sentimentos, de sensações, de leituras não, apenas, como constituinte de identidade pessoal e coletiva mas, sobretudo, como alavanca essencial à resolução de problemas... 
Venho insistindo na articulação dessas memórias como a lava vulcânica essencial à criação de novas oportunidades, mesmo que, inicialmente, o vulcão se revele ameaçador...
A insistência é, no entanto, inútil, porque preferimos a 'vidinha', preferimos ficar à porta a fingir que a abelha é uma ameaça intransponível...

6.5.18

Ainda pensei numa corrida de obstáculos

Procurava seguir o voo das aves para os lados do Samouco, quando dei de caras com uma instalação abandonada.
Ainda pensei numa corrida de obstáculos, mas a ideia era absurda. Se se tratasse de um campo de treino militar, a disposição das estruturas daria cabo dos recrutas.
Só quando avancei na direção das salinas, compreendi que, afinal, a explicação seria simples - tratar-se-ia de uma estrutura utilizada na secagem de bacalhau - abandonada...
Por associação de ideias, veio-me à memória o esquecido Henrique Tenreiro, dirigente da Junta Central das Casas de Pescadores... o que me empurrou para uma pequena pesquisa sobre a importante personagem do Estado Novo. Aqui registo uma hiperligação que me parece conter uma análise imparcial, pois o fio da história é frequentemente tortuoso: Henrique Tenreiro



5.5.18

Espreitas

Se estamos fartos deles, para que é que continuamos a dar-lhes atenção?
Estando a contas com a justiça, o melhor seria deixá-los em silêncio até que Ela se pronuncie...

Espreitamos cada detalhe, minimizamos ou ampliamos cada movimento. O sentimento de indignação cresce, absurdo.
Entretanto, quem é que ganha com esta morbidez em que vivemos?
A resposta é simples: os donos dos meios de comunicação.
Em nome da transparência, o melhor seria começar por esclarecer quem são os donos...

4.5.18

A poeira socrática

A ilusão.
A megalomania.
A pegada socrática.
(Agora, a vergonha! A destempo...)
Tanto tempo para sacudir a poeira socrática!
Tanto tempo!
Até Pirro teria deixado as sandálias na areia...

3.5.18

A Sísifo...

«Un visage qui peine si près des pierres est déjà pierre lui-même!» Albert Camus, Le mythe de Sisyphe

Pior do que ser pedra é ter que voltar a subir a montanha, embora sem pressa, pois o castigo é eterno. A Sísifo resta gerir a subida e a descida, indiferente ao olhar de Zeus...
A Sísifo resta gerir a eternidade, pesaroso ou prazenteiro, conforme o sentido de humor de cada momento... ciente de que foi a liberdade que o condenou...
Entretanto, um amigo contempla o raro equilíbrio das pedras; outro amigo espera que a festa comece para que o seu número se cumpra - ambos de passagem, felizmente... O último talvez preferisse "dizer" a septilha de Miguel Torga:
Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances 
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

Que os Poetas me perdoem, pois do fruto concedido, prefiro metade para a subida e outra metade para a descida.

2.5.18

É uma questão de tempo!

«O mundo é um lugar confuso, contendo coisas agradáveis e desagradáveis, em desordenada sequência. O desejo de criar um sistema claro ou regras que o governem é no fundo uma consequência do medo, uma espécie de agorafobia, o temor de espaços vazios.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade.

Já nem as quatro paredes garantem o sossego de quem aspira a que o respeitem ou que lhe reconheçam algum saber. 
Lá dentro, os estados de alma são de constrangimento, de um sentimento tácito de clausura, em que raramente alguém é capaz de verbalizar que só  ali está porque o obrigam - a interação forçada, a escuta gorada... O mestre já não compreende por que motivo deixou de o ser...
Apetece disciplinar aquelas almas, mas como se estas se ausentaram ou nunca chegaram a ocupar os corpos que a tradição lhes reservara...
A alternativa, por um instante atrativa, esfuma-se ao pensar que, tal como os cavalos se viram substituídos pelas máquinas, também os corpos, por ora presos entre quatro paredes, acabarão substituídos por robots mais colaborativos e disciplinados...
De nada serve ter medo!

1.5.18

Avençado? não acredito!

Como se sabe, entre 'pinho' e 'caruma' há uma relação inquebrantável e, neste caso, há também uma coincidência no nome próprio 'manuel', o que me provoca uma certa revolta, quando vejo que as vozes se vão encarniçando contra um ministro tão dado ao fandango... Em 2009, a minha zanga era mais com o patrão do que com o empregado:Um par de... 
Hoje, continuo cético, pois não acredito que tenha havido um ministro avençado. O mais provável é que o BES, por algum servicinho prestado, tenha decido remunerar o manuel pinho a prestações. Afinal, o BES não nadava em dinheiro...
Eu ainda hoje continuo a pagar prestações ao Novo Banco pelo empréstimo que me concedeu para que pudesse adquirir casa. E faço-o sempre na data estabelecida. Imagine-se o que teria acontecido se eu tivesse chegado a ministro!?