16.4.18

Fraude inteletual

Bem sei que a fraude é diariamente notícia porque o ser humano é insaciável... Poderia aqui enunciar as múltiplas expressões, mas o melhor é o leitor consultar a Arte de Furtar...
De momento, cinjo-me ao Programa de Português, 10º ano de escolaridade,  designadamente à lista de obras propostas no âmbito do Projeto de Leitura.
Pensar que um jovem de 15/16 anos está preparado para ler obras  como, por exemplo, Lazarilho de Tormes, As Cidades Invisíveis, A Divina Comédia, O Nome da Rosa, A Tábua de Flandres, A Eneida... é um disparate completo... em nome de um comparativismo primário habituado a procurar relações intertextuais ininteligíveis nestas idades...
Creio, no entanto, que casos há em que não se trata apenas de disparate. Por exemplo, é, para mim, incompreensível que O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler, surja como leitura para alunos de 15/16 anos. 
Apesar do contributo desta obra de ficção para a compreensão de um dos períodos mais negros da História de Portugal, só alguém que nunca tenha lido este romance é que se lembraria de fazer tal recomendação para leitores tão jovens... ou só alguém que, não tendo lido, cumpre uma agenda miserável.
Bem sei que há sempre o argumento de que ao professor compete contextualizar, ajustar... mas quem desenhou o Programa deveria saber que também o professor precisa de ler, de ter tempo para gerir... e esse tempo não está contemplado.
A consequência está à vista: o aluno não lê a obra, mas apresenta-a com recurso às baboseiras que a Internet lhe vai fornecendo... e, além disso, há sempre quem lhe bata palmas...

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