7.3.17

No desconcerto vicentino

Mãe, eu nam me casarei
senam com homem discreto.
E assi vo-lo prometo
ou antes o leixarei.
Que seja homem mal feito,
feo, pobre, sem feição
como tiver discrição,
nam lhe quero mais proveito.
E saiba tanger viola,
e coma eu pão e cebola 
siquer ῦa canteguinha
discreto, feito em farinha
porque isto me degola.
    Inês Pereira


Ao contrário do que se diz, para Inês, o homem discreto não tem de ser cortesão. Aquilo que se lhe exige é que não seja néscio, isto é, alguém que não é capaz de reconhecer a própria ignorância, alguém que incorre em erros que o expõem à troça...
O homem discreto será assim um homem avisado, que tem o sentido da oportunidade, e sesudo, porque sabe ponderar antes de decidir...
Em suma, a prudente Inês começa por rejeitar o néscio Pero Marques, porque ainda não tomara conhecimento da natureza do escudeiro Braz da Mata...
De qualquer modo, no desconcerto vicentino, o mundo surge virado do avesso, e a prudência é uma virtude muito arredia. Quanto mais a sabedoria! 

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