24.3.17

A condição humana

Ainda não havia tempo, quando duas criaturas bíblicas, que residiam num lugar paradisíaco, desafiaram Deus, sendo desterradas, como o próprio termo sugere, para a Terra, e condenadas a trabalhar, a sofrer e a multiplicar-se.
Foi essa desobediência que gerou a condição humana: as duas criaturas, ao perderam a imortalidade, tornaram-se efémeras, fracas, vulneráveis e, sobretudo, conscientes da sua pequenez.
No entanto, a mudança de estado não lhes destruiu o sentido do desafio. Através da multiplicação e do trabalho, acreditaram ser-lhes possível regressar à casa original, embora o percurso lhes pudesse exigir sacrifícios infindáveis e, em particular, a morte.
Mas nem a morte inexorável os levou ao desespero absoluto, isto é, à renúncia. Pelo contrário, definiram rumos precisos, cuja meta derradeira é a imortalidade, aonde se poderá chegar pela via do heroísmo (herói clássico) ou pela via da santidade (santo)...
E são estas as rotas escolhidas pelo homem para superar a condição humana. Todavia, "incapaz de assistir num só terreno", o homem gasta boa parte do seu tempo a disputar qual das rotas é a verdadeira, de tal modo que a imortalidade se tornou alcançável pelos caminhos do ódio e da destruição...
Talvez seja por isso que os jovens preferem viver num universo paralelo - o paraíso lúdico. Só que lá não deixam de procurar a imortalidade, ao quererem a todo custo superar os jogos com que o Incognito Deo lhes junca as vidas...

Há, contudo, riscos: neste desterro, a multiplicação já é possível sem um verdadeiro empenho dos filhos e das filhas das duas misteriosas criaturas bíblicas, o trabalho humano pode perfeitamente ser realizado por todo o tipo de máquinas... apenas sobra a dor (humana) materializada numa depressão sem fim.

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