17.10.16

O gesto absurdo

É quase noite! Ou melhor, a luz solar vai diminuindo... de súbito, quando decidira verificar se a luz artificial se anunciava, a persiana baixou, indiferente ao desejo, absurdo.
Segundos antes, pensara que aos leitores só interessam as primeiras palavras, e não querendo ceder à gulodice, caio na dúvida se o sentido ainda existe, absurdo.
Nesse intervalo, relembro o gesto, absurdo, em plena rotunda do relógio - abro a porta, verifico se o cinto ficara preso, ou talvez a aba do casaco, azul às riscas, vinte anos, vestido pela primeira vez na defesa de uma leitura imagológica, absurda como o tempo se encarregou de provar... afinal, a senhora, a mando do marido, queria saber para que lado ficava o aeroporto.
Do outro lado da rotunda, ainda avistei uma interminável fila de taxistas da semana anterior, absurda - só eu é que a via; o casal não queria saber da luta, só queria as chegadas ou, melhor ainda, as partidas...
Se a alvorada fosse minha, teria partido em vez de ficar a pensar no gesto absurdo, pois o que a senhora queria de mim era que eu baixasse o vidro naquele semáforo que, entretanto, passara a verde, indiferente ao casaco absurdo que um dia fora comprado para celebrar uma iniciação absurda...
Se o leitor chegasse ao absurdo do dia que anoitece, cerraria as pálpebras e, no absurdo, ficaria até que o semáforo se esfumasse.  

Sem comentários:

Enviar um comentário