30.7.16

A Igreja católica angolana e a guerra

Não sei se o José Eduardo Agualusa já se apercebeu do disparate que proferiu em 1993, entrevista ao JL de 12 de janeiro de 1993: « É o caso da igreja católica, que dispõe de meios quase inesgotáveis, de um sólido apoio internacional e da confiança da maioria dos angolanos. A Igreja está em condições de liderar um amplo levantamento popular contra a guerra. Porque o não faz?»

O argumento era completamente disparatado, porque a Igreja católica nunca teve o apoio da maioria dos angolanos - basta pensar que a resistência ao Estado Novo foi, na maioria das circunstâncias, protagonizada pela igrejas protestantes, em Angola como em Moçambique... E essa situação não se transformou após a independência de Angola...
Por outro lado, esperar que o povo desarmado se pudesse opor a um exército fortemente equipado e experimentado não passa de leviandade intelectual...

Esta triste ideia surge numa entrevista em que José Eduardo Agualusa insiste na «base crioula» da angolanidade que desenvolveu numa trilogia, constituída por: A Conjura, 1989; D. Nicolau Água-Rosada e outras estórias verdadeiras e inverosímeis, 1990; A Feira dos Assombrados,1992...
Neste testemunho, o escritor insiste nalgumas ideias que merecem aprofundamento. Por exemplo, «é no século XIX que mergulham as raízes da nossa angolanidade (...) entre 1880 e 1890 há mais jornais dirigidos por angolanos, em Angola, do que entre 1900 e a época actual."
Por outro lado, apresenta como referências linguísticas, Mário António de Oliveira, Luandino Vieira - na esteira do brasileiro Guimarães Rosa - com uma discreta alusão ao pendor antropológico de Ruy Duarte de Carvalho e uma crítica desapiedada a Sousa Jamba...
Os restantes escritores são epígonos de Luandino ou... inexistências, como, por exemplo, Pepetela...
Finalmente, a ideia de que «Angola é uma ilha" cai muito mal num leitor que se habituou a vê-la como um continente...
Esperemos que, em 2016, José Eduardo Agualusa já tenha revisto as suas teses sobre a "angolanidade", mesmo com o MPLA no poder, que, evidentemente, tem todo o direito de combater. Mas com outra argumentação.

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