3.3.16

Nos ramos dos plátanos...

Como se não tivesse nada para fazer, pus-me a contar os plátanos. Dez, em cada pátio. Dez troncos, erectos sobre raízes invisíveis, alimentadas por arroios secretos. De cada tronco jorram quatro bifurcações, sobre as quais jazem os ramos, por ora, nus de folhas e de pássaros...
O arquiteto deve ter amado o compasso e a simetria e talvez, um dia, tivesse lido 'Os Lusíadas'. Para cada Canto, um plátano, e como o lugar era escolástico, em vez de um pátio, imaginou dois, sem que saibamos qual deles é a réplica e qual o original.
Por capricho do legislador, o lugar passou a ser de Camões, em vez de ter sido apadrinhado por Herculano, o romântico.
E, por uma vez, o legislador acertou, já que Herculano preferia o azeite às alergias de cada primavera...
Como se não tivesse nada para fazer, pus-me a pensar na esterilidade da simetria, na clausura da harmonia, na fatuidade das luzes... e fico-me por aqui, antes que algum varandim venha abaixo... Entretanto, vou colocar o avental e convocar os espíritos do lugar, na expectativa que saiam das Caves e, por um momento, poisem nos ramos dos plátanos... 

Sem comentários:

Enviar um comentário