18.3.16

Com sabor a baunilha

Conheci um puto que poupava durante três meses para poder comprar um pacote de bolacha baunilha. E quando, finalmente, saboreava a primeira bolacha, sentia a consciência pesada. 
Aquela extravagância perseguia-o para onde quer que fosse, porque, lá no íntimo, percebia que quebrara o princípio de que não se deve desperdiçar dinheiro com coisas inúteis, nomeadamente, que não deveria ter cedido ao pecado da gula...
De facto, aquele pecado não resultava de um impulso momentâneo: a todos os três meses, lá comprava um pacote de baunilha, com uma única exceção anual - em abril, substituía a bolacha por um gelado, de preferência, de baunilha.
Agora avançado na idade, só raramente compra um pacote de bolacha baunilha, e não porque lhe pese na consciência, mas porque quem o poderia censurar partiu para um lugar onde não é preciso poupar durante três meses para poder comprar um pacote de bolacha baunilha ou trocá-lo por um gelado de baunilha...
Descobri, agora, que aquele puto tinha um único sonho. Que, quando os seus amigos se forem despedir dele, alguém tenha comprado alguns pacotes de bolacha baunilha, e que todos possam saborear uma bolachinha... com sabor a baunilha. Ou, se for abril, que a possam trocar por um gelado... de baunilha.

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