19.2.16

Só os abutres vivem da morte do outro

« - Impossível. Você sabe, tanto quanto eu sei, que a morte é sempre nova e sempre pessoal. Se assim não fosse, já a tínhamos tornado científica.
- Aí está, señor. Sempre nova e sempre pessoal, diz bem. Ao fim e ao cabo, foi só a mim que eles condenaram a morrer por fuzilamento.
- Por isso mesmo é um ato novo e pessoal. Você vai ter de começar tudo pelo princípio. E, se mais alguém morrer, não terá aprendido nada com o seu exemplo. Eu próprio, como nunca morri, não posso nem sei dizer mais nada.» Excerto de um diálogo entre o filósofo e o condenado, in Sombra de Touro Azul, de João de Melo. 

Não aprendemos nada com a morte do outro.
Não aprendemos nada com a notícia da morte do outro.
Não aprendemos nada com a repetição da notícia da morte dos outro.
Não aprendemos nada com o comentário obsceno da morte do outro.

Só os abutres vivem da morte do outro. E não se pode dizer deles que sejam hipócritas, pois a morte do outro é o seu próprio sustento.

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