7.2.16

Inverno

A furgoneta estaciona em segunda fila, encobrindo o automóvel cuja porta à força de ranger me convenceu a oleá-la, socorrendo-me de um lubrificante multi-usos, no qual deposito mais fé do que na classe política... Diz a embalagem que «lubrifica e penetra, remove ferrugem e limpa metais, repele humidade do sistema eléctrico». Por um momento, chego a pensar que talvez pudesse aplicar este produto a mim próprio...
Enquanto cumpro a tarefa, procuro o dono da furgoneta e vejo-o do outro lado do muro a abrir e  a fechar contentores de lixo, sem que nada retire do interior - ato mecânico e aparentemente inútil. Entretanto, decido descer a rua, aproveitando para caminhar um pouco mais, apesar do cansaço das pernas e da leveza estomacal... 
A rua e as seguintes, quase vazias, deixam o vento à solta, afastando os mascarados da quadra, sem impedir que a natureza troque as voltas às estações: as aráceas (os jarros) florescem verticais, à sombra das sebes que cercam os prédios de doze andares que predominam na localidade, sem esquecer os cogumelos que se escondem nos troncos e nas redondezas das árvores.
Avanço no labirinto e verifico que, na quinta do Seminário, os trabalhadores «guardam o dia do Senhor», obrigando o bispo a pernoitar noutros aposentos - confesso que nunca por aqui vi o bispo do Senhor; ele é ainda mais raro do que os agentes de autoridade... Descubro, todavia, a furgoneta, desta vez bem estacionada, e no seu interior não um, mas dois respigadores de papel - o que é curioso é que hoje não é dia de recolha de papel... Mas eles sabem-no certamente!
E para terminar, que não a caminhada, vislumbro um placard NÃO DEIXE QUE O SEU CÃO SUJE OS NOSSOS JARDINS! Acabara de ver um a sujar a calçada... Contudo, o que me veio à cabeça foi NÃO DEIXE QUE OS POLÍTICOS SUJEM A SUA CONSCIÊNCIA!
Por exemplo, não deixe que, num tempo de decisões políticas precárias, o convençam a consumir mais, sobretudo, produtos importados, e com recurso ao crédito... 

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