11.10.15

Não me sinto abolfeta (resgatado)

Quando o tempo começa a faltar, há quem decida dedicar-se a tarefas improváveis e inúteis. Por exemplo, construir uma base de dados pessoal - catálogo de existências bibliográficas - o que me transforma num manuseador do pano do pó e num ordenador de espécies que andavam à deriva...

No meu caso, para além da morosidade da tarefa, sinto que estou numa fase de revisitação de autores, obras, editores... e até de descoberta de existências inesperadas que me dão conta da fragilidade da memória, apesar de Freud ensinar que o nosso cérebro nada esquece: é preciso é escavar um pouco, como acontece em qualquer cidade antiga... Deitamos um tabique abaixo e logo surgem vestígios da cidade de outro(s) tempo(s)...
Concluído o registo 1067, abro o Vocabulário Português de Origem Árabe, de José Pedro Machado, percorro verbete a verbete, cada vez mais ciente de que temos andado a branquear as raízes árabes, e aterro no termo ABOLFETA: antr. que ocorre em documento de 1025 (Dipl.,pág.159). Do ár. abū-l-fidā, à letra, «Pai do resgate», isto é «o resgatado».

Confirmo, assim, que o resgate é também ele coisa antiga, anterior ao tempo dos cativos mais famosos, como, por exemplo, o Infante Santo. E, sobretudo, infiro que nem sempre o «pai do resgate» coincide com «o resgatado», embora devesse...
Parece que andamos esquecidos que pouco temos feito para pagar o resgate, ao contrário, por exemplo, dos islandeses que já se viram livres do FMI.



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