5.12.14

Num beco sem saída?

Hoje vi parte do filme O Passado, do iraniano Asghar Farhadi, e fiquei perplexo: não se enxerga qualquer futuro e o próprio presente é insuportável, porque incapaz de se libertar do passado. Neste caso, dos passados, porque cada personagem tem o seu e nenhum coincide verdadeiramente. Daí a suspensão e a suspeita que vai arrastando todos, ia a dizer para um beco sem saída, mas tal não acontece porque cada ser tem o seu beco...
Ontem assisti a uma apresentação de um livro de poemas, e a apresentadora deixou-me suspenso, porque não viu o futuro nos versos do poeta-amigo. Talvez um brilhozinho e nada mais! E a divina leitora acabou por concluir que a poesia  nada nos oferece que tenha futuro, a não ser a própria, a poesia, em casos excecionais... Naquele momento, pensei, de imediato, nos profetas, nos poetas -profetas! E lembrei-me dos épicos e daqueles prosadores-poetas que  iam ao ponto de escrever a História do Futuro. Entre todos, o «imperador da língua portuguesa, o António Vieira! Fiquei um pouco triste, talvez seja mais correto dizer, melancólico, porque o amigo António Souto não teria esse dom da profecia. Afinal, este António parece ser mais um poeta lírico!
Entretanto, no meio de diversos afazeres escolásticos, decidi fazer uma daquelas leituras que a poucos lembram. Pus-me a ler O LIVRO AZUL, de Ludwig Wittgenstein. Por isso, desde ontem que não deixo de pensar na seguintes proposições inspiradas nas preocupações de Santo Agostinho que, noutro tempo, se terá interrogado se é possível medir o tempo:
  
« O passado não pode ser medido porque passou, e o futuro não pode ser medido porque ainda não existe. E o presente não pode ser medido porque não tem extensão.»

Quem, com tudo isto, se encontra num beco sem saída sou eu. Ou será que, afinal, o passado pode ser dito porque passou e, na verdade nada pode ser dito do que não tem extensão e do que ainda não existe?  
    

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