18.8.14

Em dívida com o Abílio Jorge Cosme (i)

Em dívida com o Abílio Jorge Cosme! Já passaram tantos anos... O que irei transcrever neste e nos próximos posts não é da minha autoria. Foi me deixado numa caixa de correio, em Ouressa, Mem Martins.

Sou em Si, de ACosme

Breve Prefácio
Eis-nos perante um exemplo em que o poeta se projecta no espaço que cria e transmite ao leitor com convicção uma vivência toda ela muito sofrida e muito pessoal. Mas, como em tudo o que é real, ou seja, a realidade é variável assim como o que é projectado. Com isto pretendo alertar para o facto de que o "Sou em Si" não é mais do que o ser projectado do autor. Deparamo-nos com o exemplo de poesia viva, ou seja, que toda ela nasce, vibra e se alimenta do muito real caso humano. Muito poderia ser dito mas talvez nada se revele necessário dizer, pois as palavras confundem uns e outros e a poesia é já por si um todo.
                                                                                                                                    VANDA SUSANA

I "Esta breve romagem
   Ao interior das nossas feridas"

Acho que já escutei a tua voz ecoar
nas esquinas da minha vida, ...

Acho que sempre te conheci:
Há algo de ti
Que também habita em mim
E sempre habitará até ao fim.
Há no teu olhar uma enorme profundidade
Inquieta, penetrante, ansiosa,
Tão vasta como aquela verdade
Que eu procuro no escuro
Entre as quatro paredes de um quarto fantasma
Onde meu rosto transfigurado
Se vê, perante um espelho, bem delineado.

As tuas palavras são remates certeiros
Desferidos a favor do vento;
Há na nossa existência de guerreiros
Algo que transpõe os limites do tempo.

Pois é amigo
Eu estou contigo na madrugada;
O autocarro onde transitamos
Funde-se numa só estrada.

E se a nossa magia se perder
Por entre os rostos da multidão.
Nós teremos de aprender
A domesticar a solidão.

      Praia das Maçãs, 28 de Agosto de 1985
                                                  PEDRO SÓ

II - Nota do autor

Vivo em sonho que me procura
Na profundidade que o dignifica:
Tudo me surge sem censura
Numa sublimação que me purifica.

III
   Quando, por alguma razão, nós rejeitamos aquilo que somos e pretendemos modificar o nosso comportamento perante a natureza que nos envolve, então partimos à descoberta de reflexos que o ser mantém nas profundezas ainda inconscientes à nossa personalidade. Quando alguém recupera os sentidos ou a razão diz-se que voltou a si, daí este "SOU EM SI" trata, um pouco arcaicamente, de uma certa evolução de alguns conflitos que marcaram minha vida mais consciente e da tomada de consciência de outros que ainda me acompanham, de uma forma irresoluta, a vida interior ainda pouco tranquila na resposta do equilíbrio emocional.
      "SOU EM SI" procura um caminho através da sublimação das carências mais primárias atingindo mesmo uma certa religiosidade em relação à expectativa do que surge da dificuldade em assumir uma posição frontal com os medos e a inconstância da saúde mental, que são factores que dão uma certa irregularidade ao comportamento. Assim, eu já fui o que não podia ser e ainda procuro uma certa identidade que estabilize e enriqueça a vida que eu espero. E se eu não conseguir ser eu então que eu seja em si.

                                                                                                                                              O AUTOR
IV - DEDICATÓRIA

Ao desconforto da incompreensão
Que impulsionou o que eu venci;
À timidez e ao esforço que me recompensam
Neste ensaio para você, eis que SOU EM SI.

V - SOU
            EM
                SI

VI 

Sou pela lógica prática,
Adepto do pensamento infinito
Sóbria é a beleza matemática
Que demonstra o que eu acredito.
             

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