10.4.14

Portas que se vão fechando...

«Aquela dor de ser excluída. Havia portanto lugares proibidos, portas que só se abriam para alguns. Assim era, pois. Esse noivo distante que a mandava ir não lhe abria essas portas.» Teolinda Gersão, A Árvore das Palavras.
Avanço lentamente na leitura deste romance, publicado em 1997, mas a cada momento penso que esta narrativa bem poderia ser analisada nas aulas de História que visem compreender a realidade sociológica portuguesa nos anos 60 e 70...
Amélia descobre ainda antes de chegar a Moçambique que o casamento não lhe iria trazer a felicidade e a ascensão social... Amélia  compreende que havia portas que não poderia atravessar por mais ambiciosa que fosse. Era a sua condição, a condição da maioria da população portuguesa...

Entretanto o 25 de Abril derrubou essas portas inexpugnáveis e permitiu que milhões de portugueses entrassem e dançassem nos salões outrora proibidos.  Os Capitães de Abril devolveram a esperança de uma melhor distribuição da riqueza e por um tempo tudo parecia ajustar-se. Mas foi sol de pouca dura! As portas, com a mudança de milénio, começaram a fechar-se e, hoje, a maioria dos portugueses já só bate às portas dos salões e sonha com o euromilhões e com audis alemães...
Até os Capitães de Abril, apesar de ainda poderem entrar nos salões, já só o podem fazer em silêncio... 
Tal como aconteceu a Amélia na longa odisseia da Metrópole para Moçambique, também nós sabemos que a primeira classe deixou de estar ao nosso alcance...

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