31.10.13

O que interessa

Falha o metro e o atraso fica garantido! Pior, muitos não chegam a aparecer...
A EPAL anuncia um corte temporário de água, logo uns tantos ficam na expectativa de que a actividade letiva seja suspensa.
O professor introduz a obra, situando-a no contexto histórico - imagine-se o romantismo -, definindo as relações do texto com a biografia pessoal do autor e, de imediato, alguém clama que, agora, a "história" já não tem interesse. 
A obra vive da "história", cuja leitura é, entretanto, adiada, deixando o professor à espera, qual Godot! 
Que interessa o problema colocado no palco? Que interessa se o argumento é expressão duma intriga  (pouco) exemplar de perda de identidade e de soberania? Que interessa se hoje estamos a viver situação idêntica?
 Lá vai o tempo em que o objetivo era contribuir para a construção da identidade pessoal e coletiva. Lá vai o tempo em que os românticos se propunham transformar súbditos em cidadãos.
O que interessa é que o metro faça greve, que o autocarro se atrase, que a "história" seja de fantasia ou de alcova, que a água deixe de correr nas canalizações, que a campainha nunca toque, que o professor não marque ou "retire" a falta...
O que interessa, por agora, é que a Troika se vá embora para que possamos dormir até mais tarde e, se o sol ajudar, irmos até à praia ler uma "história" que não coloque nenhum problema e cujo argumento escorra por entre a areia até se diluir nas águas do oceano...


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