23.8.13

Um dia na Ericeira

Ruidosa ou veladamente, o homem mata. Tira a vida um pouco por toda a parte e fá-lo com recurso a todas as ferramentas –  das mãos aos robots, da pedra ao ferro, do fogo ao gás, da  água ao veneno, à droga, ao álcool, ao roubo, à insídia… As formas de matar multiplicam-se dia a dia! Na esfera privada e na esfera pública...
Por seu turno, silenciosamente, a Natureza gera vida coral, mineral, vegetal ou outra, mas fá-lo, indiferente à nossa presença ou ausência, regendo-se por uma norma que nos escapa ou que preferimos ignorar.
No meio, há sempre um gato na espectativa de derribar três ou quatro rolas e estas, argutas, vão saltitando de galho em galho à espera de o cansar.
Para além do pinhal, as águas oceânicas da Ericeira vão engolindo a areia em que, tempos atrás, desfizeram as arribas e, agora, invadem a terra que o homem tão orgulhosamente lhes conquistara…
(...)
Horas passadas, chega o vento atlântico que arrefece o dia e sacode a poeira da terra, deixando enrodilhados, pessoas e objetos.
E ao longe nem uma rasca! E nos intervalos, Crónicas no Fio do Horizonte, de Eduardo Prado Coelho, em tempos lidas na espuma dos jornais... O Eduardo que durante 30 anos se encontrou nas águas de S. Martinho do Porto, mas que, já no fim, citando Joaquim Manuel Magalhães, acusava o «país assassino» de ter destruído aquele, outrora, belíssimo lugar.
(...) Agora, o vento serenou. Apenas os cães dão conta de si, embalando-nos numa acesa disputa.  

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