11.8.13

Inquietação

«A inquietação enfeita-se sempre com máscaras novas: tão depressa é  uma casa, um pátio, como uma mulher ou uma criança, ou ainda o fogo, a água, um punhal, um veneno... Trememos diante de tudo o que não nos atingirá, e choramos incessantemente pelo que não perdemos!» Goethe, Fausto.
 
Eu gostava de subscrever plenamente esta "conclusão" de Fausto, mas a ideia do "ornamento" e da "máscara" faz-me pensar num qualquer desvio histriónico comportamental. Infelizmente, a inquietação tem uma origem menos encenada.
Basta pensar naquele pai que, perante a inevitabilidade da morte, não deixará de se sentir inquieto (atormentado) quanto ao futuro do jovem filho, sobretudo quando a sociedade se revela madrasta.
Basta pensar naqueles a quem a morte não surpreende de forma súbita e que por isso têm tempo para sofrer em silêncio a precariedade da vida dos que lhes são próximos. Quando essa precaridade anda de braço dado com a ingenuidade de uns e a malvadez de outros, a inquietação não desarma e mina as almas e os corpos...
Basta pensar na mentira continuada que nos governa, essa, sim, enfeitada e sempre com novas máscaras, para que o tempo seja desse tipo de inquietação que mata lentamente...
Podemos disfarçar com o sol e a praia, a música e o teatro, o cinema e a ciência, mas na inquietação a música é apenas um tique-taque acelerado, a ciência não traz cura nem pão, a imagem não passa de ilusão, a praia deserta e o sol eclipsa... 

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