20.7.13

Um presidente ausente

Escrever um pouco mais, mas para quê? As epístolas só interessam a anacoretas! As cartas não resistem à busca absoluta e volátil de sensações... a poesia nem digestivo consegue ser! E quando a arte morre, o romance espera a sua vez: abre-se o contentor e, sem aviso, lá vai lixo, em bruto!
Claro que ainda sobram uns tantos vagabundos de sensações, mas estes não trocam o esgotamento pelo portátil...
É como se o presente fosse apenas duração: O presidente dirige-se ao país amanhã! E porque não hoje? Ficamos à espera da palavra redentora que já sabemos que não existe... em vez da epístola sagrada, da carta de amor ou de desagravo, do ópio da poesia, da plasticidade romanesca, suspensos, estamos à espera que o presidente puxe a cavilha à granada.
 
Poder-se-ia escrever sobre a causa da crise, mas ninguém quer assumir a responsabilidade, porém ela é de todos!
E se alguém escreve e eu não o confesso, não é porque queira faltar à verdade, nem porque Deus tenha deixado de contar comigo para seu porta-voz, mas porque me afastei para longe das cartas que circulam um pouco por toda a parte a confessar a culpa alheia.
Entretanto, vou esperar pelo próximo prefácio do presidente para saber se, afinal, a culpa da crise é, apenas, minha.

PS. Decidi mudar o título "Um presidente sem presente" porque o presidente tem presente, nós é que não. Na verdade, o presidente subiu ao planalto da Selvagem para se distanciar de nós, para se ausentar de nós. Quando o presidente se nos dirige é da "ilha afortunada" onde passou a viver, apesar do tom plangente, de facto, distante...
  
 
 

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