6.5.13

Um dia sombrio

Acordei ainda o sol não despontara, e logo me veio à cabeça que o dia iria ser longo e sombrio.
Paulo Portas assombrara-me o sono, pois na véspera dera a entender que combinara com Passos Coelho uma estratégia para aterrorizar a população, surgindo, depois, como o redentor da franja grisalha... Esta parelha, sem vergonha, brinca com o povo como o D. João V saramaguiano se divertia a armar semanalmente a miniatura da basílica de S. Pedro.
 
Funcionário público zeloso lá apanhei o 783 para o Saldanha e, de imediato, percebi que a luz solar brincava comigo ao desconsiderar a minha degenerescência macular da idade (DMI): as letras e os rostos insistiam em surgir distorcidos, e os neurónios, cansados de tantas desconexões, arrastavam-me para um refúgio que deveria situar-se longe da luz e do ruído...
 
Mas o que me esperava era bem diferente! Corrigir e classificar dezenas de testes e, sobretudo, viajar até ao Bairro azul para cumprir a missão de avaliador externo.
 
Claro que a parelha desenvergonhada me perseguiu todo o dia, o silêncio deu lugar a gritos frenéticos; só o sol acabou por me fazer o favor de, aos poucos, se esconder, talvez, envergonhado do que ia iluminando cá em baixo.

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