31.1.13

Os láparos e as cobras

Contra acessos febris, uma mistura de gordura de cobra com azeite; contra a tosse, chá de pele de cobra; contra o reumatismo, sopa de cobra... À exceção do veneno de cobra, nenhuma destas mezinhas surte efeito. No entanto, a magia da palavra da cobra é tão empolgante que até as tristes maçãs se viram envolvidas no desterro dos pais fundadores...
(...) Houve tempos em que o o caixeiro (viajante) chegava ao Largo e, qual tenor, vendia pilhas de colchas, cobertores, tachos, panelas, unguentos, tudo pelo preço da uva mijona... Era tudo tão barato e fácil que ninguém resistia à inesperada necessidade. Depois faltava o dinheiro para o petróleo, para o azeite e até para o pão de milho - a broa.
De qualquer modo, o comprador compulsivo, de regresso ao tugúrio, sabia bem que acabara de ser ludibriado pelo vendedor de banha da cobra.
Mais tarde, na defunta Feira, vi acumularem-se os caixeiros e as quinquelharias, sem nunca ter percebido bem o que havia de tão fascinante em regressar a casa carregado de bujigangas inúteis... Até que mortos o Largo e a Feira, os vendedores de banha da cobra passaram a entrar pelas casas dentro, ocuparam as mochilas e os bolsos e, agora, nos cegam os olhos e destrambelham os neurónios...
Até agora, a ironia ajudou-me a resistir aos caixeiros  e às suas cobras, mas parece-me que vou acabar por soçobrar: os láparos reproduzem-se com tal facilidade que nem as cobras conseguem dar conta deles... 
Hoje, 27 de fevereiro de 2013, surgiu um láparo esfolado à entrada da Faculdade de Direito! Sinal de que os estudantes já abriram a época da caça...

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