18.6.08

Prova 639 / 1ª Fase

O erro dos anos anteriores acentuou-se.O esforço dos estudantes e dos professores é desrespeitado, porque um dos objectivos do Programa de Português é compreender, na MENSAGEM, a reescrita de OS LUSÍADAS, adaptada ao tempo decadente e caótico de Pessoa.

No primeiro quartel do séc. XX, o sono pátrio entontecia o Poeta, ao ponto deste ter escrito uma série de pequenos poemas cuja mensagem exortava o povo a despertar do «sono do ócio ignavo»...

A ideia da decadência do tempo português é uma constante na literatura portuguesa, alimentada de dentro e com consequências intoleráveis neste tempo global. Ora, ninguém melhor que a juventude pode expressar a vontade de ruptura necessária à sobrevivência da identidade portuguesa. No entanto, nesta prova, ninguém se lembrou desta hipótese de desenvolvimento temático.

Não vale a pena proclamar que o texto seleccionado não foi devidamente analisado, pois a grelha interrogativa não é gerada pela riqueza de conteúdo do texto literário. É uma grelha estereotipada que inviabiliza a avaliação das capacidades de compreensão, de interpretação e de expressão. Para que serve a estância 93? Para suportar a pergunta 4? No entanto, essa pergunta não permite que o estudante revele se compreendeu o pensamento de Camões!

Não vale a pena reclamar da amputação do texto de Luís Francisco Rebelo, já que José Saramago merecia comentador menos comprometido... Por outro lado, as respostas fechadas exigem itens menos manhosos, cuja solução não resulte de um raciocínio por  exclusão de partes. O acerto deveria revelar compreensão e não confusão, como aquela que se instalou na APP, impedindo-a de apresentar a resolução da prova, mesmo que o desencontro com o GAVE pudesse penalizar vis interesses...

Não vale a pena citar o Padre António Vieira quando é público que os jesuítas não reconheceram aos negros a mesma dignidade dos índios. Há certas citações de autoridades em questões de cultura e de literatura que, por vezes, dão que pensar. Esta prova trouxe-me à memória António José Saraiva, Óscar Lopes, Jorge de Sena, Carlos Reis... Há certos atropelos que são imperdoáveis!

Não vale a pena concluir que os professores que procuram cumprir os programas se sentem atraiçoados e que os estudantes mais aplicados são os mais prejudicados. Não vale a pena!

A literatura é, hoje, escrava da mediocridade. Camões, Vieira, Saramago foram convocados para um banquete que nem de trovas chega a ser.

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