24.2.08

A nossa Conferência de Berlim / Lisboa

As fronteiras nacionais africanas nasceram da imposição da Conferência de Berlim: um estado orgânico colonial imposto pelas potências colonizadoras partilhando a África sem muitas preocupações quanto ao que já existia. Várias nações, no sentido da formações sociais antigas africanas, passaram a estar reunidas dentro de novas fronteiras. Tribos amigas e inimigas passaram a pertencer ao mesmo espaço colonial.

Esta estratégia, adoptada pelas nações europeias no séc. XIX, continua a alimentar o pensamento dos assessores do Governo actual: como é preciso adoptar medidas (receitas) para a resolução do atraso económico e cultural do país, consulta-se o catálogo das organizações internacionais que sobre estas matérias vão reflectindo, criam-se múltiplos grupos de trabalho (constituídos por indivíduos sem qualquer conhecimento do território físico e humano) que, obrigados a cumprir a agenda política (eleitoral), deixam cair sobre a mesa dos decisores um mapa de ocupação-cor-de rosa, ignorando por inteiro o passado e desprezando os efeitos imediatos e a longo prazo do receituário legislativo.

Tal como em África, em nome de interesses de partilha, estamos a destruir tudo o que, ainda, pode ser aproveitado, a gerar um clima de guerra transfronteiriça, e a hipotecar, por longos, anos o futuro.

Quanto aos governantes, incapazes de desenhar uma estratégia própria, continuam orgulhosos das medidas adoptadas, crendo que elas os imortalizarão, quando, de facto, deles deixam uma memória de extraordinário autismo.

(Hoje, sobre "medidas", vale a pena ler Vasco Pulido Valente. E sobre "autismos", recomenda-se Daniel Sampaio.

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