21.12.07

Apenas os olhos...

No Teatro Camões, em dia de temporal (19.12.2007), assisti à apresentação, pela Companhia Nacional de Bailado, do Lago dos Cisnes, ballet dramático em 4 actos, com música de Tchaikosvsky e coreografia de Mehemet Balkan. Inspirado numa antiga lenda alemã, narra a história de Odete, uma princesa transformada em cisne por um feiticeiro. Esta obra teve a sua estreia fracassada em 20 de fevereiro de 1877. Gostei particularmente dos cenários e dos figurinos assinados por António Lagarto. Foram, sobretudo, os meus olhos que estiveram naquela magnífica sala porque o cérebro, esse, não suporta o calor dos corpos e deixa-se cair facilmente na prostração das melodias repetitivas e arrastadas. A imobilidade arrastou-o para um delírio onde se cruzaram cenas do quotidiano que naquele momento bem gostaria de ter dispensado.

Hoje (21.12.2007) voltei a experimentar a mesma sensação de adormecimento perante o filme Bucareste, do romeno Corneliu Porumboiu (2006). Mas neste caso, os meus olhos apenas puderam comprovar o lado negro de um país que perdeu a memória da sua revolução ou que procura saber onde estava cada um no dia 22 de Dezembro de 1989, oito minutos depois do meio-dia, naquela cidade a Este de Bucareste.

A reconstituição feita pelos protagonistas naquele absurdo canal de televisão não passa do desejo de estar do lado certo da história, quando, de facto, as vidas mostram a pequenez daquele par de cidadãos.

Espero que ninguém se lembre de me perguntar onde estava na madrugada de 25.4.1974. Embora, eu saiba que estava a dormir. E quando acordei, fui ver a revolução  que estranhei pela forma como os militares se dispunham no terreno, esperando que o regime se rendesse. Quanto aos cidadãos, ainda não sabiam que o eram e, incautos, assumiam poses de vencedores, dificultando as manobras e pondo as vidas em risco.

De qualquer modo, o regime agonizava, nada mais tendo a oferecer. Tal como hoje, apenas a glória da corrupção, da manobra, da vaidade saloia...

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