2.9.07

Em Setembro…

Sétimo mês do calendário romano. Para mim, há muito que Setembro é o primeiro…

Mais uma vez, volto à escola na expectativa de encontrar jovens sedentos de saber ou que, pelo menos, eu seja capaz de os motivar. Sei que alguns têm objectivos definidos e que procuram alcançá-los a qualquer preço. Sei, também, que muitos outros vêem na escola um tempo imposto e inútil e, por isso, cedo mostram o seu desinteresse, de forma passiva ou activa: os mais activos são os mais inconformados e rapidamente se tornam indisciplinados. (Diria que a indisciplina, ao contrário do que muitos pensam, é gerada pela própria escola, pelo próprio sistema educativo. No limite, todos os sistemas procuram disciplinar, normalizar, fazer obedecer, e, para o efeito, geram normas que convidam ao desvio, à delinquência.) Sei, ainda, que são raros os que se apresentam disponíveis para aprender sem exigir contrapartidas.

Neste contexto, confesso que me sinto cansado, pois, pela 33ª vez, o sistema me convida a fazer de conta que é possível modificar a heterogeneidade de atitudes sem alterar minimamente os objectivos, os programas, as técnicas de avaliação; convida-me a fingir que se eu for um "bom" professor, qualquer insucesso volverá sucesso; convida-me a aceitar que o fracasso dos meus alunos é o meu fracasso. Todavia, ao normalizar-me, o sistema convida-me à indisciplina (ou à desistência?) …

E quando chega Setembro, sinto que os muros se elevam e começo a ouvir, cada vez mais perto, o poema de Fernando Pessoa:

 

Tudo que faço ou medito

Fica sempre na metade.

Querendo, quero o infinito.

Fazendo, nada é verdade.

 

Que nojo de mim me fica

Ao olhar para o que faço!

Minha alma é lúcida e rica,

E eu sou um mar de sargaço –

 

Um mar onde bóiam lentos

Fragmentos de um mar de além…

Vontades ou pensamentos?

Não o sei e sei-o bem.

13.09.1933

 

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