29.8.07

As contas de Alberto de Lacerda (1928-2007)

A REDE

O que eu sustento, o que eu não invento, o que eu prometo,

o que as palavras e as praias perpetuam

na alegria verde do amor,

devolve-me as estradas e o princípio,

o alegre princípio!

 

A fauna dilacerada refugiada no verso,

o silêncio de pedra das horas perdidas,

deixam outra vez aquela distância

onde encontro o palácio dos meus sete anos

e as portas monumentais ultrapassadas

só pela infância mortal duma beleza mortal

como Londres à tarde nos finais de Novembro.

 

O que sustento, o que eu descubro e não invento,

o que eu repito exaltadíssimo,

lembra às vezes a rede potente

que se desfaz, só na aparência,

para os que esperam duma forma errada,

para os que nunca se sentaram no meio da estrada,

para os que nunca sorriem por acaso,

e não se destroem num ritual preciso

igual às vozes puras da meia noite do mar.

 

O que eu sustento, o que eu não invento, o que eu prometo

é a alegria límpida das lisas

planícies de certas visões insuportáveis de luz.

O que eu prometo é o que eu vi, testemunha e nada mais.

Eu canto o que existiu e existirá, glória suprema

Dos deuses e não minha.

                Londres, 11-1-54

 

(O poema é de Alberto Lacerda; os sublinhados são meus)

 

Nem Ideia, nem Luz nem Ideal

nem Compromisso nem Infância

a Pátria é uma quimera

a Vida uma ilusão.

O que eu prometo é o que eu vi, testemunha e nada mais.

    

 

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