23.1.07

A minha contingência...

Desde cedo que tudo me parece contingente. Esta palavra sempre me fascinou, não que ela, em si, deslumbre. A razão não é estética: uma palavra com quatro sílabas surdas é quase tão pesada como eu. E, apesar de tudo o que se diz, eu prefiro a sonoridade da insustentável leveza do ser...
A contingência agrada-me porque me obriga a olhar para dentro das ténues linhas que separam a certeza da incerteza. E eu, desde que penso nisso, não consigo encontrar nenhuma explicação para os caminhos que percorri... tudo me soa a aleatório, a decisão esquiva...
Falta-me uma explicação plausível, lógica, ancorada numa certeza...
O meu ser vem da milenar heresia, incapaz de conviver com qualquer ortodoxia, e só ouve as palavras soltas da voz.
Se a memória estivesse por perto talvez me exigisse algum exemplo... mas ele há tantos maus exemplos que prefiro abster-me de os referir. E de que serve um exemplo no reino da contingência?

1 comentário:

  1. A contingência pesa. Pesará, com toda a certeza. Mas pior do que a contingência da memória e dos exemplos, ou dos exemplos e da memória, é quase sempre a contingência da vida. É que a esta acrescem todas as outras contingências, no plural. E não há solução possível, estrutural ou conjuntural (como agora sói dizer-se), para este desígnio do Fado.
    Damo-nos conta demasiado tarde, irremediavelmente tarde, de que a contingência da vida se confunde com a contingência da morte, e isto, sim, é um fardo que se nos cola ao lombo...
    Às urtigas o «carpe diem»!...

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