17.11.06

De cidadão a funcionário...

Há uns anos atrás, parecia que ao Estado pouco mais restava do que a recolha de impostos e a sua redistribuição pelas várias clientelas que, entretanto, se tinham formado. A Nação deixara de poder fazer a guerra e, sobretudo, deixara de poder fazer moeda. Alienara as restantes funções, entregando-as a Bruxelas. A Igreja católica cedera o lugar a várias seitas mais ruidosas.
O Bloco Central, mascarado de alternância democrática, ocupava todas as funções de Estado, tornando-se no verdadeiro beneficiário da integração na União Europeia. O clientelismo instalou-se, desarmando a iniciativa, o traballho e a aprendizagem.
Afastaram-se e substituiram-se os quadros técnicos existentes por correias de transmissão dos partidos; as corporações aumentaram as suas regalias, desinteressando-se completamente dos princípios da justiça e da solidariedade; e a vaidade exposta nos mass media tornou-se no critério electivo dos governantes...
Progressivamente, um Estado, que vira reduzidas as suas funções, transformava-se num Estado cuja função principal era distribuir os fundos europeus e, que incapaz de controlar a rapina, acabou por se deixar atolar no compadrio, no nepotismo e no amiguismo.
Hoje, esse mesmo Estado, em nome da reposição de uma mítica e salazarista ordem nas finanças públicas, decidiu que a regeneração das instituições passe a ser feita por decreto de personagens cinzentas, nunca escrutinadas, mas que me fazem recordar os militantes maoístas que, cegamente, seguiam o Grande Timoneiro.
E bem sabemos que para o Grande Timoneiro, só a ruptura pode levar à Revolução cultural. E em nome do Partido, o cidadão deve ceder o lugar ao funcionário eficiente que combata o desperdício.
No que me diz respeito, como, obedientemente, tenho vindo a aderir ao novo conceito de 'funcionário', começo a não ter tempo para reflectir, para ler e para escrever... O discurso instrucional ocupa-me todo o tempo...
E ao escrever cada vez menos neste blog, estou a combater o desperdício...

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