4.9.06

Se ao menos pudesse ter a calma necessária...

«Estranho, como uma coisa a fingir, se usada sistematicamente, se pode tornar realidade.» Franz Kafka, Diários, 24/1/1922 Lisboa. 41 graus centígrados. Sufoco. O cérebro disperso: desloca-se, perplexo, do amigo, confrontado com um eritema nodoso para o desalinho em que caiu o quarto dos fundos… (Ah! Se um quarto exprimisse a alma do seu ocupante! Esperemos que a alma seja bem mais rica, apesar do desalinho!) Ao sair do quarto, em que, de facto, prefere não entrar, o cérebro interroga-se sobre o sentido das depressões passageiras ou, talvez, seja melhor pensar que, também, na depressão pode haver pausas sazonais… E, subterraneamente, continuam activos dois cenários de morte – o da absurda teimosia vingativa que destrói o coração do companheiro de uma vida de 50 anos, sem qualquer manifestação de culpa ( só ficou o alheamento mudo!); o do ódio de sangue que emerge de sexualidades travestidas, em que o amor e o ódio se irmanam numa luta de morte pela vida. - Se ao menos pudesse ter a calma necessária para não pensar nisto tudo… sem querer fugir disto tudo!

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