17.9.06

Rosas negras e brancas, ainda que vermelhas...

O monólogo "Ventos de Leste", interpretado por Natasha Marjanovic, mostra à saciedade como os "interesses" inconfessados podem dividir o que parece inseparável. E também mostra como o multiculturalismo é frágil. Qualquer faúlha pode gerar um incêndio e toda a caruma é consumida ou obrigada a partir para países distantes onde a língua começa por ser um obstáculo desesperante.
Mas deste ora divertido ora lancinante monólogo resulta também a ideia de que o "estrangeiro" antes de 'aprender a língua' se vê obrigado a 'aprender a terra'. Este último imperativo também devia ser posto em prática pelos nativos.
'Aprender a terra" significou para esta ex-jugoslava confrontar-se com uma série estereótipos bem diferentes dos da pátria Tito. Parece, hoje, uma imigrante aplaudida, mas, aqui, é apenas uma entre os 360.000 que tiveram que abandonar a ex-jugoslávia. Em nome do quê? de quem?
- Pergunta sem resposta.
(No solo da Gulbenkian, onde decorreu este espectáculo, esteve presente o engenheiro Guterres, esposa e outros familiares ilustres, estes um pouco mais distantes. Curiosa foi a preocupação de um funcionário da Fundação que quis libertar o ilustre espectador do sol tímido que lhe espreitava o couro cabeludo. No entanto, o engenheiro, sorridente, em mangas de camisa, não acedeu a trocar o sol pela sombra..., embora deva ter saído a pensar naqueles anos da sua governação em que a NATO bombardeava indiscriminadamente civis e militares, em vez de se limitar a perseguir "os interesses"...)
De Portugal fica a imagem de um estado folclórico em que a burocracia é tão severa como as bombas da NATO.
O público aplaudiu de pé. O sucesso da imigrante? A performance da actriz? As bombas da NATO? Os mortos de uma guerra fratricida? O jeito que nos dá que haja guerra em qualquer outro lugar que não na 'nossa' terra?
O público aplaudiu. Natasha recebeu rosas negras e brancas, ainda que vermelhas, contrariando a profecia materna de que em Portugal ela não viria colher rosas.

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