12.8.06

Os incêndios que nos devoram a alma...

Franz Kafka pensava, em 1911, que «a memória de uma pequena nação não é mais pequena do que a de uma grande nação e pode por isso digerir melhor o material existente Diários
Este calor atrofia o cérebro e devasta a floresta, deixando a caruma reduzida a nada ou, pior ainda, como primeira suspeita da tragédia que, anualmente, empobrece os pobres e fabrica novos ricos. Estes incêndios estivais são uma boa ajuda à política de emparcelamento que tem vindo a recuperar terreno, deixando no esquecimento o tempo em que se lutava contra os latifúndios. É toda uma literatura que voluntariamente se obnubila!
Por vezes, interrogo-me se esta política educativa que rejeita o ensino da literatura é apenas um sinal da ignorância de quem nos governa, mas, quando observo os lugares onde os incêndios deflagram, dou comigo a pensar que todas estas pequenas courelas vão mudar de mãos - de muitas e humanas mãos para a uma mão anónima e desumana... E, nesse momento, sei que Kafka perdeu a razão ao pensar que defender a literatura era defender a consciência nacional, pois esta é, hoje, um escolho na aposta da globalização. De facto, o destino da memória das pequenas nações já está traçado, desde o fim da 2ª Guerra Mundial.
A globalização é uma efectiva inimiga das literaturas regionais, nacionais e mesmo continentais.
Numa sociedade global não haverá definitivamente alma e por isso, enquanto ardem os campos, a guerra alastra no Médio Oriente - a outra face da luta titânica pela hegemonia global.

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