17.7.06

Um corrector esdrúxulo...

Uns preferem o discurso esdrúxulo, outros o discurso descarnado.
Quando a um examinando de poucas palavras sai um corrector esdrúxulo, podemos dizer que está tramado. E se à concisão juntar uma letra miudinha, seca, tímida - reveladora de uma personalidade introvertida - então, não tem qualquer hipótese. O corrector esdrúxulo prefere a letra garrafal, alongada, pronta a derramar-se num infinito oceano lírico...
Hoje, tive a oportunidade de observar como trabalha o corrector esdrúxulo: rejeita a letra miniatural, embora sublinhe zelosamente os grafemas maiúsculos que histericamente se elevam sobre a imaginária pauta; rejeita a brevidade da resposta sem cuidar de lhe interpretar o sentido (o conteúdo?); rejeita a fria e simples enumeração dos traços da personagem; rejeita a resposta crítica do examinando que, seguindo o autor, entende que D. João V teria feito melhor em investir o ouro do Brasil na construção da passarola do que na construção do convento de Mafra; rejeita a competência argumentativa e o espírito de síntese porque o examinando ao expor a tese (no 1º parágrafo) não explicitou que a exploração espacial possa ter resultado da incapacidade dos políticos resolverem os problemas da sua terra. No entanto, o examinando desenvolveu a tese, argumentando que o egoísmo, o desejo de protagonismo, nos levam frequentemente a cortar com os nossos semelhantes, em nome de uma singularidade e de uma superioridade discutíveis.
Esta fobia do corrector esdrúxulo valeu ao examinando uma surpreendente classificação final de 7,5 valores, perdendo, pelo menos, 4 valores.
Uma parte do problema reside precisamente na falta de qualidade das provas de avaliação e na forma arbitrária como são classificadas...
Ora, esta questão só pode ser resolvida no âmbito da formação inicial e contínua dos professores...

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