4.7.06

Os predadores...

« Quando se fizer a lei da responsabilidade ministerial, para as calendas gregas...» Almeida Garrett, Viagens na minha Terra, 1843
Depois dos ministros Ferreira do Amaral e João Cravinho terem coberto o país de auto-estradas, passou a ser tão fácil percorrer o país de lés a lés que alguém, inefável, concluiu que não era mais necessário fazer a lei da responsabilidade ministerial.
E não fosse algum pateta das luminárias levar as cépticas palavras de Garrett a rigor, determinou-se que jamais se enfadasse a nossa juventude com algum capítulo daquele folhetim que dá por nome Viagens na minha Terra.
(Apesar de tudo, estou convencido que mais dia menos dia, a TVI acabará por instalar os estúdios lá para os lados da Ribeira de Santarém, bem pertinho da esquecida Santa Iria, presenteando-nos como uma bucólica Joaninha da Real Companhia das Lezírias! É apenas uma questão de tempo: o tempo necessário a que a Joaninha Moura Guedes aprenda a montar.)
Quando o Estado é laxista, a questão da responsabilidade ministerial é fulcral. Como é que se pode alterar este estado de coisas, se os ministros não são solidários com os ministros anteriores? Qualquer novo ministro alija a sua responsabilidade para cima do ministro anterior, revogando-lhe as leis que, na maioria dos casos, não chegaram a ser regulamentadas; e mais recentemente, criou-se o hábito de montar nos mass media um circo, onde os trabalhadores, em geral, e os funcionários do estado, em particular, não passam duns velhacos doentes e preguiçosos que só aspiram a opíparas reformas, exaurindo a burra do estado.
Já que a solidariedade ministerial não existe, poderia, pelo menos, fazer-se justiça: Por exemplo, julgar e prender todos aqueles ministros, secretários de estado, chefes de gabinete, assessores... que deixaram os sindicatos impor-lhes um estatuto (de igualdade remuneratória) da carreira docente, que deixaram os directores dos centros de formação distribuir verbas incalculáveis por formadores gananciosos que foram acreditando milhares de professores sem, de facto, os avaliar, que aceitaram (e defenderam hipocritamente) o modelo de gestão democrática. Este laxismo ministerial é que gerou os predadores que continuam à solta...
E é para não incomodar os predadores, que já começaram a recolocar-se à mesa do orçamento, que todos os dias o circo ministerial faz cair em descrédito os palhaços de 2006...

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