11.7.06

O que é ser experiente?

«O incêndio deflagrara à hora do almoço. Eram cerca de 13h30 e os bombeiros tratavam de apagar mato, caruma, giestas. De repente, a direcção do vento alterou-se e a ordem ecoou:"Para trás!"(...) e os chilenos avançaram no sentido inverso, à frente do fogo."Ouve-se dizer que estes sapadores têm muita experiência", por isso o Sérgio foi com elesPúblico, 11.07.2006
Há séculos que alimentamos a ideia de que o que é estrangeiro é bom, é experimentado. Ou, pelo contrário, ressabiados e xenófobos, condenamos liminarmente tudo o que vem de fora ou vive lá fora. Talvez não valha a pena dar exemplos, mas basta pensar na carga de ambiguidade da palavra estrangeirado para perceber como somos capazes de idolatria ou de persecução de tudo o que não é genuinamente português. Agora, estamos numa fase de alguma idolatração do que é estrangeiro, de quem vive e trabalha lá fora. Veja-se o caso do Scolari, dos jogadores da selecção ou mesmo dos emigrantes - que não dos imigrantes! Defendemos modelos estrangeiros: da Irlanda à Finlândia, resignando-nos, mesmo, à cada vez maior presença espanhola em solo lusitano.
E os sapadores chilenos não escapam a esta presunção de experiência. Há vários anos que a comunicação social dá testemunho da sua presença sem a questionar. Sempre em nome da competência que essa, sim, faltará aos nossos bombeiros voluntários, amadores... No entanto, não é a primeira vez que experimentados (?) bombeiros chilenos morrem nas nossas matas porque não obedecem à ordem de arrepiar caminho.
Quando ignorarmos as coordenadas do terreno que pisamos, não há experiência que nos valha! O chefe dos bombeiros locais que deu a ordem "Para trás!" é bem mais experimentado que qualquer encartado (diplomado) noutras longínquas paragens.
E este fascínio pelo desajustamento, pelo esquartejar do saber acumulado ao longo de muitas gerações, alastra pelo país como o incêndio de Famalicão da Serra.

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