20.4.06

A caruma sente-se perplexa

Hoje, a caruma sente-se perplexa. Está incomodada, pois não sabe em que regime vive. Até há pouco tempo vivia despreocupadamente: nunca pensara na natureza da relação que há longo tempo mantinha com o pinhal ou mesmo com as agulhas em geral e as dos pinheiros em particular... Subitamente, um vento vindo do Continente começou a falar-lhe de relações hierárquicas, de equivalência, de oposição e, sobretudo, de inclusão. As relações hierárquicas nada lhe diziam, pois tinham-se esfumado numa madrugada de Abril; as de equivalência eram-lhe completamente desconhecidas, pois jamais imaginara que alguém a pudesse substituir por «carumba», «carumeira», «carunha» - palavras que, apesar de tão rasteiras como ela, jaziam esquecidas no fundo de um obsoleto dicionário. Para si, as relações de oposição tinham perdido qualquer significado, pois deixara de perceber que diferença havia entre «bem» e «mal», «pobreza» e «riqueza», «direita» e «esquerda» - há muito que o relativismo a deixara sem coragem para tentar ordenar o que quer que fosse. Chegara mesmo a sentir-se bem na periferia, onde, apesar de marginalizada, raros eram os que a pisavam... estava ali, alienada e, quando, em certas horas, pensava na sua condição percebia o que era uma relação de exclusão. Mas, hoje, a caruma está, de facto, perplexa: o vento voltou a falar de inclusão. Ainda perguntou às outras equivalentes - as agulhas - o que era a inclusão, mas estas não lhe souberam responder pois estavam ocupadas em obedecer ao vento que derivava num turbilhão capaz de aterrorizar um qualquer incauto... Valerá mesmo a pena explicar o que são relações hierárquicas, de equivalência, de oposição e, em particular, de INCLUSÃO? Não quereria o vento falar de EXPLOSÃO? de IMPLOSÃO?

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